Uma opinião

Não fosse o muro alto e o portão fechado, quem passasse pela rua veria uma rede branca no terraço e dentro dela eu, finalmente com a paz necessária para ler os poemas encantadores de minha vizinha e amiga Nair Damasceno. Somos amigos, mas por sermos ambos introspectivos, só a via quando na via, mas não a via poeta. E assim se foram 17 inacreditáveis anos. Hoje, graças ao advento da internet, nos comunicamos por e-mail.

Os poemas a que me refiro estão no seu mais recente livro PEDAÇOS, lançado esta semana. Tempos atrás, quando li o seu primeiro livro foi uma agradável surpresa: gostei de todos os poemas ali publicados, coisa que nunca me acontecera, mesmo ao ler poetas consagrados. Os dez primeiros poemas que li até agora vão me levando à mesma impressão. Eis uma pequena amostra:

A Espera

Passei horas, minutos,

Toda uma vida

Com o rosto colado

Na vidraça do tempo

Como quem espera alguém chegar.

Dias, anos se passaram,

E com eles todas as estações:

Chuvas,

Folhas a cair,

Sol a brilhar,

Flores a brotar,

Meu rosto impassível

Continuava lá ...

Colado à vidraça.

A vidraça embaçou,

Envelheceu com o tempo.

Tardiamente descobri

Que o que eu vivi a esperar

Do outro lado da vidraça

Estava do lado de cá ...

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Nair Damasceno também faz parte do nosso Recanto das Letras.

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 20/03/2016
Reeditado em 20/03/2016
Código do texto: T5579237
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