Província Minas do Sul (1870)

Luiz Carlos Pais

 
O tema do separatismo regional ou das subdivisões administrativas do país sempre foi tratado com certo desprezo, principalmente, pelas forças políticas mais hegemônicas no domínio geográfico das querelas e dos momentos considerados. Ficou no plano quase literário a ideia de levantar bandeira separatista na atual região Sul e Sudoeste de Minas. Esse sentimento surgiu no período colonial, quando as terras delimitadas pelas margens esquerdas do Rio Grande e do Rio Sapucaí pertenceram à capitania de São Paulo e foram dominadas por um destemido governador mineiro. A estratégia foi ocupar a área, facilitando a inserção de famílias portuguesas que vieram nas Ihas do Açores. Trouxeram dinheiro e compraram grandes extensão de terras. Daí surgiu sentimento separatista na cabeça de alguns políticos que pretendiam ampliar seus territórios de poder.
 
O Almanach Sul Mineiro foi um periódico editado, no final do século XIX, pelo escritor, jornalista político mineiro Bernardo Saturnino da Veiga, um dos entusiastas da causa separatista da região sul da então Província de Minas Gerais, defendendo a criação de uma nova província. Membro de uma grande família de livreiros, políticos e jornalistas da cidade de Campanha, berço histórico do Sul de Minas. Eram defensores da vertente política mais conservadora e monarquista.
 
O Almanach servia de plataforma de divulgação desses ideais de criação de uma nova unidade do então Império do Brasil. Logo na apresentação do periódico o editor estampava sua bandeira separatista com toda clareza, em favor da criação do que ele havia batizado de Província Minas do Sul. Por mais de uma vez a discussão chegou ao Senado do Império, mas não prosperou. Um projeto chegou a ser elaborado com os mais refinados detalhes, mas recebeu apenas o apoio de poucos senadores.
 
Uma das condições para justificar a criação de uma nova província no vasto território do Sul de Minas, além dos acordos políticos, estava a base econômica da região que, naquele momento, tinha maior importância a pecuária e não a cafeicultura como seria cerca de três ou quatro décadas depois. No início da década de 1870, a produção de café ainda era incipiente nessa região mineira. A expansão mais expressiva veio com o final da escravidão e com a vinda dos colonos europeus, que continuaram sendo considerados sem quase nenhum direito pelo trabalho realizado.
 
O cronista do Almanach observa que a preciosa rubiácea era plantada quase somente para consumo local com duas exceções, as cidades de Alfenas e Pouso Alegre, onde a planta crescia com vigor admirável, mas nos municípios próximos à província de São Paulo e do Rio de Janeiro, já havia imensos cafezais plantados. A criação de gado era então considerada um importantíssimo setor da economia do sul de Minas. Em quase todos os municípios da região havia criação de gado, com destaque para Alfenas, Caldas, Três Pontas, Dores da Boa Esperança, Passos e São Sebastião do Paraíso.
 
Uma avaliação publicada no referido periódico indicava que desta parte da Província de Minas, a exportação de gado vacum para São Paulo e Rio de Janeiro chegava a 70 mil cabeças por ano, alcançando a cifra de quatro mil contos de reis. Era um dos momentos áureos do ciclo do gado. A comarca de 1ª entrância de Jacuí, uma das comarcas existentes em 1874, envolvia os municípios de São Sebastião do Paraíso, com cinco freguesias e Passos, envolvendo seis freguesias. O tempo passou e levou junto o sonho político de criar a Província Minas do Sul ou ainda existe algum germe de tentação nesse sentido? Viva Minas unida que é uma só e várias ao mesmo tempo!