SINCERICÍDIO


Era baixinho, magro e já tinha bastante idade. Seu verdadeiro nome era Possidônio, convenhamos, um nome bastante incomum. Mas todos o chamavam de Tabinho. Morava no interior, em uma fazenda que ficava cerca de 20 km da cidade. Tio Tabinho era figura bastante conhecida. Pessoa afável, sempre de bom humor, mas tinha o que não sei definir, se qualidade ou defeito, falava o que pensava, era sincero.

Irmão de meu avô materno, frequentemente aparecia em nossa casa para visitar a sobrinha, minha mãe. Sua sinceridade e comentários nada sutis, às vezes, causavam embaraços.

De certa feita, apareceu para tomar um café e após os cumprimentos, viu que sobre o armário da cozinha minha mãe havia exposto muitos vidros de compota, cheios de doces de frutas que ela acabara de fazer. Tio Tabinho, então, sem nenhum propósito, se saiu com o seguinte comentário:

"Maria, cê tá rica!"

Numa outra oportunidade em que veio nos visitar, minha mãe, aos quarenta anos, havia dado a luz meu irmão mais moço. Mamãe envelheceu cedo. Nessa idade já tinha os cabelos brancos e o rosto um tanto enrugado. Parecia ter mais idade. Ao chegar, tio Tabinho olhou atentamente para mamãe com seus olhinhos miúdos e com um leve sorriso, exclamou:

"Maria, cê tá véia!"

Imagino que ele tenha ficado um tanto chocado ao ver a sobrinha, precocemente envelhecida, com seu bebê nos braços. Mas mamãe não era pessoa de se ofender e recebeu o comentário sem se alterar. Quando ele foi embora, falamos sobre sua total falta de tato. De qualquer forma, seu comentário passou para o anedotário da família e foi sempre motivo de riso. Ninguém se ofendeu, tio Tabinho era muito simplório

Até hoje ele é lembrado quando há um aniversário na família. Vêm primeiro os cumprimentos e depois o comentário .
Cê tá véio, ou véia!
O que é motivo de muita risada.

 
Aloysia
Enviado por Aloysia em 24/03/2016
Reeditado em 24/03/2016
Código do texto: T5583523
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.