“Quero uma consulta com a LEILA”

Leitores, amigos e clientes, eu acho que o mundo está dando nós nas cabeças das pessoas. Em várias situações na nossa vida um nó bem atado pode salvar vidas. Como exemplo: na marinha, no alpinismo, numa cirurgia ou num atendimento médico de emergência, na engenharia, na arquitetura, na cibernética – e assim vai...

Viver é sempre preciso, mas com precisão... Até os mais rudimentares navegadores sabiam disto. Hoje a gente, no mundo moderno, tinha que ter como regra certas normas de conduta precisas em todos os sentidos para nos comunicarmos, mas parece que a coisa está derivando pra nós frouxos, assim como acontece quando cadetes de primeira viagem acham que conseguem guiar navios. As pessoas estão com nós mal ajustados em seus neurônios.

Um mundo que vê todos os dias notícias de tanta violência e tanta safadeza política, que mexe diretamente com a vida dos cidadãos, começa a reagir de forma anormal. Tanto anciãos quanto os jovens começam a ter comportamentos absurdamente fora do básico da comunicação interpessoal, da socialização, do bom convívio. Só assim consigo entender o que aconteceu ontem, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

Eu estava em meu consultório de manhã cedinho, mas não estava em meu horário de atendimento. Como em meu consultório eu me sinto muito relaxada, resolvi organizar minhas coisas pessoais burocráticas. Um porteiro deve ter dito que havia uma ginecologista atendendo. Aí aconteceu:

Tocou a campainha e eu tive que parar com as minhas coisas pra abrir a porta. Uma moça que não passava de 20 anos de idade, olhou pra minha cara e perguntou - sem nem dar BOM DIA:

“Eu quero saber se A LEILA pode me atender agora”.

A LEILA é quem abre a porta pra atender qualquer pessoa, seja ganhando a merreca que paga um plano de saúde ou recebendo uma consulta particular. Mas a Leila é doutora e uma senhora. Muitas pessoas me chamam pelo nome próprio (e eu faço questão disto), mas uma estranha não tem este direito.

Aquela guria (da mesma forma agem assim certas senhoras) só serve pra pesar o Planeta Terra. Qualquer pessoa inteligente deve saber dar BOM DIA, se apresentar, dizer objetivamente ao que veio, e, se possível, com um sorriso ou uma carinha triste no rosto, meio que disfarçada.

Não era o caso. A garota queria uma ginecologista da mesma forma que ela escolhe o sanduíche na lanchonete da esquina quando deu fominha; da mesma forma que ela fala com a recepcionista do salão de beleza em que ela faz escova progressiva todo mês.

Ouviu minha resposta curta e grossa, tanto quanto ela:

“Não tem vaga. E estou muito ocupada agora!”

Esta cidadã carioca nem se abalou com minha resposta. Do lado de fora de meu consultório, no corredor, deu meia-volta e só disse: “Ah, ta...”.

Como são diferentes as minhas pacientes! A gente acaba por selecionar pela própria natureza quem fica pra sempre e quem vai logo de primeira, com uma patada só.

Eu tenho a maior paciência até com pacientes psiquiátricas, mas não tenho a menor bateria pra gastar com gente mal-educada. Estas até conseguem alguma coisinha a curto prazo, mas são incapazes de sobreviver muito neste mundo cão e jamais vão plantar alguma coisa diferenciada na sua existência. Portanto, pesam o mundo, consomem a escassa água que temos e pentelham a vida de quem tem mais o que fazer.

Neste mundo só vai sobreviver quem for INTELIGENTE. Condição sine qua non pra isto é SABER DIALOGAR, RESPEITAR AS PESSOAS E SER CORDIAL.

Leila Marinho Lage
Ginecologia e Obstetrícia
clubedadonameno.com