Carta à crise

No Brasil é assim, a cada dois anos temos eleições. A cada fim de eleição temos o mesmo discurso de que o país não tem jeito, pois entra político, sai político e continuamos com o mesmo problema de sempre, a falta de gestão e esclarecimento sobre fatos imprescindíveis à democracia nacional. Mais que isso, talvez o erro, se assim pode dizer, não esteja naquele que se diz nosso representante, mas quem sabe em nós, meras massas de manobras que vão às ruas sem um aparente motivo. Apenas estamos lá. Talvez até por simplesmente estarmos lá, mesmo que não haja nenhuma pretensão. Inclusive surge aquele pensamento hipócrita, dizendo: “queremos estar nos livros de história daqui a alguns anos”.

Não que eu venha defender partido ‘A’ ou partido ‘B’. Não que eu venha dizer que fuluno fez isso ou fez aquilo. Não que eu venha afirmar que a justiça está sendo ou não parcial. Mas que eu venha agir, de fato, como um cidadão, exercendo pelo menos o mínimo dos direitos que o Estado me garante, que é ser crítico a todos aqueles que detém certo poder sobre mim, pelo menos lhes dado de forma constitucional. O Brasil já está velho demais para fecharmos os olhos e fingirmos que nada está acontecendo. Estamos em uma crise. E, pelo incrível que pareça, não se trata de mais um desconforto econômico, mas sim de uma profunda perturbação política, que vai além das siglas partidárias que se dizem instituições representativas. Isso não vem de hoje, de dois ou quatro anos, de uma década... Pasmem! É intrínseco a nós. Vem desde o nosso “descobrimento”, quando, de forma arbitrária, passaram a nos chamar de “brasileiros”, fazendo alusão àqueles que roubavam o pau-brasil.

Então, nessas configurações, o que ocorre no país não é nada mais nada menos que a colheita daquelas lavouras de ignorantes plantadas há séculos. Então surge a pergunta: teríamos jeito? Claro que sim! Mas aí não seríamos mais Brasil. Não teríamos mais aqueles cenários paradisíacos, não seríamos mais o país do futebol, das mulheres bonitas, dos homens sarados, de gente receptiva, do sorriso em cada esquina, das fronteiras livres, dos jabás de agradecimentos. Seríamos o país da educação, da saúde, da segurança, da política e, sobretudo, do bom senso. Teríamos orgulho de dizer por aí “eu não sou ladrão com muito orgulho”. Em nossas ruas, casas e corpos estaria estampado o cruzeiro do sul. Talvez assim Deus até concordaria em dizer que é deste território, de fato. Não só Jeová, mas quem sabe grande parte das representatividades religiosas.

Mas o fato é que a crise está cada vez mais presente e envolvida em nosso ser. O pior é que enquanto continuarmos com esse pensamento inexoravelmente tucano ou petista, sempre estaremos beirando a essas situações calamitosas, de gente cega pelo poder, sendo situação ou oposição. Enquanto não nos vermos como o erro, sempre seremos apontados pelos outros como imperfeitos e sem recuperação, porque uma vez PT, sempre “guerrilheiro”, e uma vez PSDB, sempre “coxinha”. Não existe meio termo. Não existe oportunidade de pensar as infinitas possibilidades. Não existe nada além da Globo. Só existe o BRASILEIRO, que, mesmo não agindo conforme o seu discurso, sempre está “serto”. E eis que esse terremoto político que desmorona o pouco da nossa sanidade distancia ainda mais a chance de tentarmos algo diferente dessas duas oligarquias contemporâneas disfarçadas de defensoras da DEMOCRACIA. Isso sim é a real representação do lobo vestido de cordeiro. E você, além de querer virar foto num livro de história, está fazendo o quê para mudar essa realidade?