QUANTA CONTRADIÇÃO !

Semana santa! Período em que ficam mais visíveis as contradições humanas.

No aspecto sacro, temos seguidores de homens santos, que preferem privilegiar rituais e cerimônias, festividades e milhares de regras (nunca criadas pelos próprios santos), do que ir de encontro ao que seus mestres (?!?) preconizaram em vida. Isso ocorre em todos os credos.

Só no cristianismo, considerando todas as vertentes, do catolicismo às denominações evangélicas e outras correntes paralelas, temos bilhões de “crentes”, que creem muito mais em salamaleques gestuais, cânticos, exaltações e aleluias, do que nas orientações originais de seu líder maior: Jesus, também chamado Cristo. Tudo que disse foi, convenientemente, esquecido.

Conforme os evangelhos, ele dizia que o crente tem de ser piedoso e não pode recusar empréstimo a quem lhe pedir, evitando receber de volta o montante, na maior parte das vezes; não deve ter bens materiais, ter como única reação à agressão, oferecer a outra face, amar os inimigos e rezar por eles, orar em silêncio e jamais em voz alta, não erguer templos, ser irmão de todos, sem distinção de qualquer natureza, evitar vaidade e jamais desrespeitar o próximo. Como nunca conheci alguém que cultivasse ao menos uma razoável parcela dessas condições básicas, que constituiriam o verdadeiro crente cristão, nunca conheci um cristão pra valer, mas só gama enorme de pessoas que creem agir bem, sem entender, nem de longe, a mensagem que foi preservada nas páginas da bíblia, que, aliás, ninguém lê, corretamente.

No aspecto secular, profano, que, em tese, deveria ter conexão com ao menos alguns preceitos religiosos, já que a grande maioria segue alguma religião, não somos melhores. Como cidadãos, formamos um amontoado de gente, filosoficamente inepta, que aprende um ofício qualquer, seja operacional, burocrático ou acadêmico, acomoda-se a um estilo de vida e trabalho, arrota preceitos ideológicos superficiais, que, geralmente, acompanham seu meio de estudo, trabalho ou social, defende partidos, classes profissionais ou iniciativas, aparentemente humanitárias, para sentir-se engajada em algo meritório, mas jamais se dedica a conhecimento mais apurado das origens, meios, mecanismos, circunstâncias e implicações do que apoia.

Alguns de nós, que vivem na pindaíba, preferem se juntar a movimentos radicais e sair por aí invadindo, quebrando, devastando, agindo como bandidos da pior espécie, mas sempre apresentando o rótulo de oprimidos, desfavorecidos, associados à luta por direitos. Porém, o que fazem, ou melhor, perpetram, causando malefícios de toda espécie, anula, moralmente, qualquer condição prévia infeliz em que se encontrassem, trazendo à baila, somente, o aspecto mais tenebroso de suas índoles. Vale tudo pra conseguirem se dar bem.

É na mesma trilha desse vale tudo que os afortunados, abonados, poderosos ou eleitos seguem, tomando sempre o cuidado de mostrarem a cara de santos, agindo como diabos.

Outro dia vi uma pessoa dizendo os muitos milhões gastos no atendimento médico de políticos, magistrados, governantes (de âmbito federal, estadual e municipal), que, vejam só, são pagos pelo povo, para que esses nobres senhores se tratem em hospitais de primeira, com direito a muita mordomia, enquanto toda a população (que pagou por esse mimo) só tem o SUS e mesmo assim não consegue atendimento (que é da pior qualidade). Interessante, né?

Há políticos que se dizem honestíssimos, mas assentam suas existências sobre direitos que exigem o sangue dos mais humildes ou dos trabalhadores que movimentam a nação. Se esses santos homens não se importam em viver à farta, tranquilos, enquanto a turba passa por muita necessidade, em diversos sentidos, sua alegada honestidade vale menos que estrume.

Enquanto isso, continuamos nos ajoelhando, rezando, fazendo sinais, mas não agimos como verdadeiros cristãos, nem como conscientes cidadãos, pois seguimos com as intrigas, os atos falhos, o desrespeito, os vícios de caráter, o egoísmo e aberrações, privilegiamos amigos e conhecidos ou familiares, em detrimento de outros, ignoramos o conhecimento e exaltamos a zombaria, o escárnio, e ao mesmo tempo em que batemos no peito, falando de virtudes, vamos às eleições para optar por quem nos é simpático ou vai nos favorecer, de alguma maneira.

É muito fácil e usual exigir direitos, sem a contrapartida dos deveres.

Quanta coisa mudaria no mundo se só fôssemos humildes, simples, pacíficos, solidários. Imaginem um governo que restringisse seus gastos ao mínimo, sem milhares de repartições, cargos de confiança, viagens, mordomias, solenidades, propagandas e campanhas milionárias, redirecionando tudo para as necessidades dos cidadãos e progresso da nação.

Para isso se realizar, é preciso que comandantes e comandados se tornem “GENTE”.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 26/03/2016
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