“Posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim”**

Sou a mais paradoxal das criaturas:

Sou corajosa por ter medo; ajo por temer a reação.

Sou introspectiva quando quero falar; eufórica quando estou triste.

Quando quero dormir, tomo café; para me espertar, suco de maracujá.

Quando quero relembrar, bebo; e para esquecer, penso.

No pior dia da semana (domingo), li um dos melhores livros: “O Livro dos Abraços”, de Eduardo Galeano, e foi então que percebia que o paradoxo é o equilíbrio que move o mundo.

Ninguém escapa.

Nem Jesus, que nasceu num deserto e tem como símbolo do dia de seu nascimento a neve.

Nem Hitler, que sendo austríaco, tornou-se o mais alemão dos alemães.

Nem Che Guevara, que depois de reprovado no exército, veio a ser um dos maiores guerrilheiros.

Nem Carlos Magno, que era analfabeto e criou a primeira grande biblioteca.

Sequer Don Quixote, que dizem dizer "Ladram, Sancho, sinal que cavalgamos", quando não o fez; nem o personagem de Humphrey Bogart em Casablanca, que não diz a lendária frase: “Play it again, Sam”.

Muito menos eu, que não gosto de ser o centro das atenções, mas só escrevo sobre mim.

Pelo menos, de Barros explica, e, quem lê, perdoa.

**Manoel de Barros

Cristina Carneiro
Enviado por Cristina Carneiro em 02/10/2005
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