Deus

Daqui um mês, aproximadamente, nascerá meu filho, Marco Antônio. Desde criança fui "preparada" para isso, primeiramente pelos brinquedos que tinha e ao decorrer dos anos, pela minha posição na sociedade. Sou mulher e um dia seria mãe. Nunca tive a oportunidade de pensar diferente. E eis me aqui pensando em tanta coisa... Não tenho medo. Meu filho será amado em toda a sua essência. A maternidade não me assusta. Me intriga. Me questiona. Me desafia.

Quando eu tinha uns 6 anos, eu acho, perguntei a minha mãe porque não frequentavamos uma igreja. Todos os domingos eu via as famílias da nossa rua indo à igreja, mas nós não. A resposta foi direta: "quando eu era criança até ia. Meu pai era presbiteriano... (e já emendou uma explicação sobre esta religião) Eu ia porque era obrigada. Não vou fazer isso com vocês. Se um dia você quiser, te levo em uma igreja, mas não vou frequentar.

Minha mãe não sabe, mas neste dia ela me deu a maior lição de todas por ela recebida: "tem tanta gente nas igrejas, mas creio que Deus não esteja lá não. Na segunda feira todos voltam a ser eles mesmos."

Meu pai deixava a bíblia aberta durante a semana. Sabia um número considerável de salmos para cada tipo de angústia. Mas aos finais de semana, desaparecia. Minha mãe não lia a bíblia. Ela estava honrando a família. Ela não nos ensinou a rezar. Mas sempre esteve ali, suportando (dando o suporte e sendo um). Meu pai falava em Deus, mas não me lembro dele acordado nas minhas noites de otite.

Bom, a lição foi concluída quando vi um dia meu pai falando pra deixar a bíblia aberta no salmo 91 e logo em seguida tocando o cachorro pra fora da cozinha com estupidez. Naquele mesmo dia, de noite, vi minha mãe retirando os carrapatos do Maradona, fazendo um carinho extra na barriga dele também, que acabou dormindo. E assim ela fazia com todos os nossos bichos, como filhos. Piolhos e carrapatos tinham de ser eliminados.

Mas e se meu filho me perguntar sobre Deus? Diferente da minha mãe, nunca fui obrigada a nada. Nunca sofri violência física ou mental. Sempre fui livre e acolhida. Deus existe?

Quando, e se meu filho assim me perguntar, terei a resposta, a minha. Deus não está nas igrejas meu filho. Ele existe de domingo a domingo em tudo aquilo que o homem não criou. Deus está onde as respostas não existem. Deus está naquilo que sofre com a vaidade e intolerância do homem. Deus está no amor dos seus bichos por você e no seu por eles. Deus está aqui todos os dias e nem sabemos se Ele realmente se chama assim. Ele está no dia e na noite, nas nuvens e nas estrelas. Deus vem quando você resgatou aquele gato e acolheu aquele cachorro. Está na compaixão pelo seu semelhante, sobretudo nas situações de vulnerabilidade. Deus não está na caridade com data marcada (me perdoe, acho vaidade). Deus não tem perfil em redes sociais. Deus não precisa ser louvado. Não precisa ser temido. Deus se manifestou no seu corpo quando de microscópico te fez grande, célula por célula. E hoje te digo que esta é a minha fé e nada dela receberei, pois ela em si é a própria bênção. Ela em si é a vida! Jamais peça. Agradeça.

É nisso que creio filho. Agora, crie a sua própria fé.

Mariane Dalcin
Enviado por Mariane Dalcin em 27/03/2016
Reeditado em 28/12/2018
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