Cabaré, mercado das ilusões e templo do prazer

Um dos melhores cabarés do interior de Pernambuco foi o "Itapoã" em Arcoverde, estado de Pernambuco. Nenhum dos clubes sociais da Região era mais imponente que ele na época (anos dourados). Foi construído por um comerciante e vereador, Manoel Santana (que por ironia do destino foi assassinado nas imediações do cabaré).

O cabaré possía um salão imenso, com pilares em volta do dancing, local para a orquestra tocar, mesas ao redor e, no final, havia um corredor onde ficavam as "suítes" para os pares vadiarem. Detalhe: foram cooptadas as musas da profissão mais bonitas e famosas da Região, o chamado filé mignon (segundo os experts no assuinto). Parecia o Bataclá do livro de Jorge Amado, ocabaré de Maria Machadão, no romance Gabriela. Foram construídas perto do Itapoã várias casas onde as musas foram morar. Com o tempo essas casas viraram "Castelos", dirigidos por algumas das musas mais famosas e com espírito, como se diz hoje, empreendedor. Só frequentava quem era abonado. Os castelos começaram a rivalizar com o Itapoã, mas só algum tempo depois.

Um boêmio da terra,metido a poeta, Luis Massena, compôs um bolero sobre o local: "Cabaré, mercado da ilusões", dizem que fez a música roendo por uma das musas que o deixou por um soldado de polícia. Mas o apelido mais bonito que colocaram no cabaré foi de autoria de um locutor do Serviço de Alto-Falantes, Dadá Bravo, frequentador assíduo do local, só saía de lá pra difusora, ele denominou o local de "O Templo do Prazer". Houve protestos da parte dos religiosos, mas o apelido pegou.

O Iapoã foi palco de muitas paixões, festas extraordinárias, brigas e até assassinatos. Várias das musas deixaram a profissão e se casaram, algumas muito bem e três delas viraram locomotivas da sociedade em cidades do interior de outros estados. Foram ótimas esposas, mães exemplarese defensoras nos clubes de serviço e nas entidades religiosas da moral e dos bons costumes, ninguém mais indicado com o cabedal de conhecimentos da escola do mundo. Mas essa virada de costumes de vez eem quando sofria um ataque de saudade. Uma delas que encontreio por acaso no Recife, hoje uma matrona respeitável e bem de vida, me disse que sentia uma saudade danada dosseus tempos de puta no Itapoã, derramou até lágrimas,

Do Itapoã não resta mais nenhum vestígio, hoje no local há casas comerciais, escritórios, oficinas, residências, não se fala dejeito nenhum que foi a rua do Itapoã. O interessante é que no tempo do cabaré a rua tinha o nome de Rua Capitão Budá que foi o pai do Cardeal Arcoverde, o primeiro cardeal da América Latina. O Itapoã faz parte da história de Arcoverde que alguns teimam em esquecer. Eu não esqueço. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 01/04/2016
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