Linha do Horizonte

Linha do Horizonte





Dou início a crônica com uma reflexão sobre o mito dos 20% de aproveitamento do cérebro humano. De acordo com o professor do professor G. Ballard, as pessoas usam 100% todos os dias e com esforço. "Não há uma parte sequer do cérebro que não seja usada. Todos os dias, cada parte da mente desenvolvida está sendo usada. Agora, às vezes, ela fica entediada e faz coisas como palavras cruzadas ou o que for, mas está sendo usada de qualquer jeito. Há um tremendo input/output acontecendo o tempo inteiro".

Eis uma informação pitoresca, senão indutora. Muito longa e desconjuntada para ser um aforismo, não serviria como um enunciado, uma metáfora, talvez, sei que fundou âncora nos meus miolos ao ouvir uma cinquentona no balcão da padaria, em tratativa com um conhecido, explicando que seu sonho era ver os filhos fora do país o quanto antes. Demorava o atendente em trazer-lhe os pedidos e pude aferir que os filhos já são formados e imersos no mercado de trabalho. Estão na casa entre os 25 e os 30 anos. Ela foi taxativa ao dizer: aqui não tem futuro.

Aterrissei na calçada com a abrangência desse depoimento casual ferindo algo em mim que até agora procuro identificar, aliás até agora ventou na tela mental o possível e o impossível, incluso aí o famigerado Campo de Distorção da Realidade. Veja, não tem nada a ver com a inabilidade ótica do ser humano em enxergar um cubo com ângulos de 90 graus. É uma outra coisa. De qualquer forma, de momento, tudo parece "uma outra coisa". Modernosamente dizendo a Terra já não mais reúne atributos arcaicos tais quais local de expiação, prisão cósmica, inferno(?), purgatório(?),  etc., mas tão apenas um ambiente físico de restrição de consciência. Assim sendo, a embalagem de músculos e sangue está aquém de compreender o quadro todo.

O que eu afastei, com alho e crucifixo, foi qualquer indício de julgamento sobre a opinião da senhora na padaria. Digam o que quiserem, mas beira o insuportável o julgamento fratricida que transpira em todos os locais, praticamente sobre qualquer assunto. Neguinho abriu a boca e pipocam saraivadas de pitacos, de bem humorados a beligerantes. Ou bem eu apoio ou bem eu condeno, eis o diapasão, explicando direitinho para os intérpretes pouco educados da pátria que prescinde de educação.

Não fosse cansativo e por ventura perigoso, o lado positivo é que o país está diante de uma discussão grandiosa, ininterrupta, camaleônica e, faço questão de sublinhar, a diplomacia carece de todas as palavras. Parece-me sensato crer na necessidade da diplomacia, haja visto ser a história uma narrativa desvinculada de forças imutáveis, mas atada até a raiz de diligências humanas.

Tortas ou corretas, isso é outro assunto. Seria incrível ver no Debate Nacional o mote de que se o conhecimento é poder, a sabedoria é graça.

Não sei se você sabe, mas uma pesquisa informal realizada nos anos 2005/2006, nos EUA, revelou que uma maioria constrangedora de candidatos a tirar o brevê, em seus primeiros voos, voava em posição invertida, sem saber. O cenário é assim: nuvens para todos os lados, embaixo, em cima, os aparelhos no painel indicando a posição correta do avião, entretanto, alguma coisa no cerne dos futuros pilotos levava-os a desconfiar dos medidores e por conta própria "ajustar" o avião. Resultado: voavam de cabeça pra baixo.



(Imagem: Sul da Bahia, Panorâmica, Carol N. 2018)








 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 06/04/2016
Reeditado em 27/06/2020
Código do texto: T5597087
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