O SHOW DA VIDA

A vida é um espetáculo. Único. Ela acontece agora, o seu cenário é aqui e lá, é o mundo. O seu público, os despertos. É preciso estar alerta para testemunhar o show da vida. E no filme da sua vida, você é o ator principal. Não permita que outro se passe por você, que viva por você, você não é um coadjuvante, pelo menos na sua história. E não queira ser outra pessoa, não seja um personagem, seja autêntico, seja você. Pode não ser a mais bela e nem a mais fantástica história para ser vista ou contada, mas é sua história. Talvez não tenha muitos espectadores, acredite isso não é importante. A flor por mais bela que seja na primavera ela irá desabrochar, mesmo que esteja na mais alta montanha, sem nenhuma plateia, sem uma única testemunha. Mas assim mesmo a flor cumprirá seu papel, abrir-se-á para a vida. Seja você mesmo a testemunha, olhe para você, perceba suas motivações, mas faça de fora, seja o ator e a plateia, como se estivesse vendo você agindo, interpretando. Não tenha medo de tomar as decisões, assuma o comando da sua vida, seja corajoso o bastante para isso, você não é um boneco de marionetes no teatro do mundo. Disso depende a sua liberdade, sua autenticidade.

Ha vários tipos de prisões nessa vida. Desde o seu nascimento elas lhe são apresentadas. O cercadinho do berço, os olhos vigilantes da mãe, mais tarde a escola, logo depois a igreja e o mercado. Todas elas com suas regras e suas convenções. São elas que desde cedo tem a incumbência de lhe guiar, de ensinar o caminho certo em que deve andar. Como método didático essas prisões utilizam-se da repetição e da memorização. Com o claro objetivo de que você copie os atos praticados pelas outras pessoas, que se pareça com elas e que você seja um conhecedor das regras já estabelecidas, a isso dá o nome de tradição. Se você não cumprir a tradição, você torna-se um transgressor da lei, se se desviar do caminho, será um perdido. Entende como você é moldado para seguir o padrão posto, a pretexto que é para seu bem, para sua segurança? Tornando-se grilhões quase imperceptíveis, fazendo você um prisioneiro da redoma protetora que o cerca. É parecido com a estória do elefante amarado pelo cipó na pequena vila. Os aldeões o alimentarão, ele será motivo de muita alegria para aquelas pessoas. Mas a verdade é que elefantes não foram feitos para fazerem palhaçadas. Certamente a vida selvagem trará perigos ao elefante, ele poderá ser morto por outros animais, por caçadores, e ainda assim, a vida parecerá mais digna com aquele animal. Seja autêntico, decida ser livre. Aceite a vida como ela lhe apresenta sem medo e com coragem. Não se prenda as raízes familiares, deixe crescer os seus ramos, espalhe-se, expanda-se e ainda esteja aqui, com você, seus pais tiveram a vida deles, essa é sua. Não deixe que a promessa de um céu futuro, faça você perder a única vida que tem agora. Não se ponha a prêmio, não se venda, não seja um produto posto à prateleira.

A vida deve ser sempre o alvo, viver melhor e mais intensamente... Resgatar o valor da vida é o alvo, e isso implica retomar o corpo; não corpo idealizado dos anúncios, mas o corpo como parcela de vida que vibra, sente, pensa, quer; (Viviane Mosé, Nietzsche o Filosofo e a Educação, 2013, p.56).

O filosofo alemão com a “filosofia do martelo” torna-se o maior expoente do pensamento moderno na tentativa de derribar os “deuses de barro”, de tirar o peso morto do passado e as projeções e ilusões do homem pós-moderno. Nietzsche procura desmistificar a ideologia anunciada por todos os meios midiáticos, de que o homem precisa ser feliz, seja nessa vida ou na vindoura, mesmo que para isso ele deixe de viver. As palavras do autor de O Crepúsculo dos Ídolos soam como um despertador, convidando você a acordar de um longo sono.

Eladio Carvalho
Enviado por Eladio Carvalho em 12/04/2016
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