Caminhos
Quando para-se de lutar, ama-se já que o amor é o oposto do lutar, são antípodas inconciliáveis, realidades contraditórias.
Para que se ame necessário é a dedicação total à pessoa amada, não disputando-a com quer que seja, não sentindo-se ameaçado por nada ou por ninguém. Aí existirá o amor.
Portanto, tudo o que viole essas condições do amor será anti-amor: o ciúme, a possesividade, a trágica tendência da dependência mútua, do "não viver sem a pessoa amada".
Tudo isso não é amar e podem perguntar-se , com toda correção, o que seria: amar é simplesmente viver cada momento como se fosse o último a nos ser concedido, ir com a certeza da volta ou o abandono para nunca mais, nesse paroxismo que apenas os amantes se permitem.
Não olhar na distância e lamentar-se de morte pelo afastamento do ou da amada ou amado mas ter a capacidade de projetar e antever a vida que se quer. Amar é, sobretudo, a capacidade de pacificar o coração, dedicar-se, sentir-se parte de um universo cujas peças foram juntadas por um artesão delicado e sutil mesmo quando o mundo ao redor conspira contra o sentimento, exalta individualidades e faz com que haja uma legião de solitários doloridos.
Amar não contempla a luta, contempla a realização, sem tempo para acontecer mas já acontecendo na intenção que brota sem avisar como uma semente lançada ao acaso que não existe. Tal é o sentimento e tal é a realidade.