SENZALA
Neste dia primeiro de maio de dois mil e dezesseis, o mundo reflete as conquistas trabalhistas, pontos positivos e negativos no tocante à causa do capital e da mão de obra, ou seja, o trabalho, na contemporaneidade. Escolhemos a nomenclatura senzala para homenagear este que deveria ser um dia de profundas reflexões e mudanças. Todavia, talvez você possa estar se perguntando qual o sentido de trabalho e de senzala?
Com efeito, nos parece ser muito interessante esta equiparação - por equiparação você pode estar recordando ganhos salariais. Contudo, nos últimos anos, embora o governo do PT tenha empenhado esforços para garantir um mínimo salutar para milhões de brasileiros, acreditamos que o maior problema são os sindicatos, que embora mantenham em seu quadro muitos homens e mulheres éticos e comprometidos com as causas trabalhistas, alguns destes sindicatos (salvos exceções) acabam por jogar no time dos bandidos. Entretanto, não entraremos nesta seara, pois nos parece por demais complexa e, neste momento, não cabe no discurso.
Estive semana passada ministrando aulas de Geografia, por conta da ausência de professor amigo, a aula versou de um assunto interessante: A revolução industrial. A situação de aprendizagem proposta pelo governo do Estado de São Paulo trazia uma gravura do afresco: Operários, de Tarsila do Amaral em contraponto a canção de Noel Rosa, melodia esta que, no momento, me escapa à memória, porém, se me recordar antes do término deste escrito prometo lhe informar. Após razoável tempo de explanação, fiz a seguinte comparação: em que a escola é parecida com uma linha fabril, ou dito de outro modo com uma fábrica? Muitos estavam pasmos por não enxergarem o óbvio, tive de explicar o porquê de minha pergunta; disse aos olhos assustados e atônitos que me ouviam: cada carteira poderia ser comparada a uma linha de fábrica, bem como uma máquina operada por um determinado funcionário: você possui um número de chamada, como possui um número em seu RG (registro geral); da mesma forma mora em uma casa situada, por exemplo, na rua 3 número 44, centro ou periferia da cidade em que reside. Você pode observar, se não é lá tão lesado das ideias, seu crachá tem um número funcional; ora, isso significa ser você apenas e tão somente um mísero número nas estatísticas deste país em caos no qual você e eu vivemos. Tenho de lhe informar ser tua pessoa indiferente ao sistema capitalista ao qual você ajuda a perpetuar sua ira contra os mais fracos, isto é, o pobre. Você concorda ou não? Não peço para concordar comigo, mas que tenha a inteligência de pensar naquilo que estás ouvindo. Não obstante, me pareceu terem entendido aquilo que eu tão ardorosamente havia lhes informado, o fato de serem operários em construção, pessoas sem um mínimo de importância para as classes abastadas.
Enfim, dei a palavra aos referidos alunos e já pessoas responsáveis pelo progresso da burguesia brasileira, alguns meio que timidamente arriscaram uma palavra, um ponto de vista, outros se resignaram em suas carteiras duras e apenas ouviam nossa aula expositiva. Antes de terminar nossa conversa formulei nova pergunta aos alunos: Vivemos longo período de cerceamento da liberdade em nosso país, no qual muitas pessoas, mulheres, velhos, homens e crianças negras eram mantidas em regime de escravidão e tortura em local insalubre e desumano; o nome do lugar: SENZALAS. Todavia, é necessário informar a existência histórica, de dois períodos capitais para compreensão de nosso artigo: o sistema de produção escravista, seguido do sistema feudal para podermos compreender a questão do capitalismo e a escravidão moderna. Hoje caros alunos, estamos em plenos pulmões no século XXI, contudo, sinto informá-los ter a escravidão ainda lugar no mundo atual: este tênis que ostentas com prazer e alegria passageira, pode ter sido confeccionado por mão de obra escrava; o celular que admiras poderá também ter sido composto por pessoas em condições insalubres e precárias em senzalas de fundo de quintal (deixarei para maiores esclarecimento, texto do jornalista Leonardo Sakamoto a este respeito no final de nossa conversa), mas poucos saberão deste detalhe. Na época da escravidão havia o feitor, ou capataz do senhor da casa grande, aquela pessoa semelhante ao torturador USTRA defendido calorosamente por deputado corrupto e doente no último dia dezessete de abril, na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na câmara dos deputados de nosso país.
Contudo, não iremos nos ater por muito tempo, saibam ter em nosso entendimento muito de senzalas nas indústrias da modernidade. Talvez vocês estejam perguntando: não somos explorados, recebemos nosso salário em dia e nosso patrão até nos diz bom dia; ganhamos cesta básica e temos planos de saúde, isso não é mais do que justo? Como diria minha querida aluna Ana Cecilia: depende do ponto de vista. As SENZALAS DA MODERNIDADE são unânimes em pagar plano de saúde, prover cestas básicas, festas no fim do ano e por aí vai..., mas não o fazem por serem bondosas e sim por conta do consenso mundial. Se elas não tomassem esta postura ficariam para trás. Todavia, os planos de saúde dispensados aos ESCRAVOS dos dias atuais servem para garantir, além do MONITORAMENTO da saúde do mesmo, também o tempo de duração nos porões da SENZALA; as cestas básicas têm como objetivo nutri-los e, desta forma, garantir os pedidos da CASA GRANDE. Entretanto, a referida cesta básica é de uma qualidade ínfima, mas para que importar-se com escravos, se um morre outro aparece com os dentes brancos e cabeça baixa, este é o objetivo do capitalismo. Enfim, a festa de fim de ano existe para iludir a massa, muitos ESCRAVOS têm a certeza de ser o patrão aquele cara batuta, que se importa pra caralho com seus escravos. Ledo engano. Em suma, o que conta é o discurso capitalista afirmar ser o “funcionário PEÇA principal para o empregador”. Karl Marx, em seu célebre livro “O CAPITAL”, escreveu: O operário dispende trabalho (T), recebe o salário sob formula de dinheiro (D) e, com esse dinheiro, compra as coisas de que necessita para si e para a sua família. Estas coisas são mercadorias (M). Em suma, a equação é simples: T – D- M depois T- D- M depois T- D- M e assim a burguesia cresce à custa de algo que, em tese, não lhe pertence, pois se o valor de uma força de trabalho é determinado por este ou aquele sujeito, tal valor não será nunca o JUSTO a ser pago. Com efeito, a Senzala está nas ruas neste primeiro de maio, muitos se rejubilam por terem emprego em tempos de vacas magras, outros choram pelo pão que lhes é negado pelos donos da CASA GRANDE quando deliberadamente produziram um caos politico e econômico no seio da sociedade, mas quem pagarão por este caos serão sempre os ESCRAVOS, que desnutridos e sem esperança esquecem o nome de seus algozes; é a tal da alienação alimentando o capitalista. Senzala, tu mudastes de lugar, agora teu chão não é de barro batido, tampouco suas paredes são mofadas e escuras, salvo em casos isolados dos recantos deste país de bandidos. Senzala: hoje teus filhos sorridentes dirigem-se aos postos de recrutamento e com a carteira de trabalho assinada sentem-se felizes e dizem serem LIVRES. Livres para servir a sinhá na sala da diretoria, para cuidar de seus filhos por valores irrisórios, enquanto elas rejubilam-se nas festas repletas de futilidades, porém, para que reclamar, agora somos “livres”. Salve primeiro de maio, salve povo brasileiro ESCRAVO, CANSADO e OPRIMIDO, mas desejoso por ser alforriado mesmo diante da sepultura.
FONTE: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/05/13/lei-aurea-125-anos-a-reinvencao-do-trabalho-escravo-no-brasil/
https://www.youtube.com/watch?v=sAS9KPbmCH8