Instantâneo 1

Sempre digo aos meus alunos que não deem título aos seus textos antes de começar a escrevê-los. Só depois de acabado, lido e relido, é que o título vem. Traí a mim mesmo. Comecei com o título. Pior de tudo: Estou escrevendo a centímetros de distância deles e ouvindo música ao vivo debaixo das asas do Corujão. Do lado de fora da Casa de Tortas de doce Porção Mágica.

Chove uma chuva morrinhenta. Melhor: Chove lenta e continuamente num pseudoinverno como são todos os invernos da minha terra. E nós ouvimos “Garota de Ipanema” para nos aquecermos. A chuva me anima. Chuva combina com leitura. Li Mário Quintana antes de vir para cá. É que poesia é remédio para dor de cabeça e a minha dói muito e como dói! Passou. A água cai fria no chuveiro. O cheiro de andiroba toma conta do banheiro. Depois veio a copaíba. Amazônia! Vejo as fotos no Facebook. Ceará! Não!! Hoje faz-se arremedo de frio. “Vou pra Porto Alegre. Tchau!”

Entrei num jeans surrado, vesti uma camiseta listrada vermelha. Faltou um gorro também listrado. Onde está Wally? Os óculos estão comigo. Achei dois coletes. Vou com o listrado. Mania de listras! Coisa de Maluquinho. Na cabeça não vai uma panela. As delícias vão pra barriga e pros ouvidos.

Saí... Na rua, encontrei um equatoriano querendo chegar ao Rio e eu num portunhol fluente, indico o caminho pela carretera e subo na garupa da moto pelas calles de la ciudad, senderos de breu...

Subi apressado as escadas. João falava. A música nos banhava. Doces sons de Torres de açúcar e imagens. Natália, muito lúcida, d’ Lira, dos 20, 30, 40, 50, 10, 100... 1000 anos.

Uma surpresa em palavras e eu apavorado sem terminar a crônica. Cronos não gosta de mim! Jesus me ajuda! A caneta está nervosa. Pausa para saborear abacaxi com marshmellow. Delícia! Pausa para digestão! Vou descansar a mão falando. As pernas tremem, mas vou correndo ler antes do doce acabar.

São Gonçalo, 28 de abril de 2016

Durante o evento Corujão da Poesia na confeitaria Porção Mágica