A Incoerência

O Sol aponta no horizonte, abro a porta e vejo a noite ainda aberta, meio sonho, meio certo, enquanto o breu se dissipa nas lascas de luz. Logo lembro que sozinho estou, estou sem ela. Sigo meu caminho, em frente, sempre. Chego a lugar algum, volto aonde nunca fui, ando, me perco, me acho, me espalho, me vivo. A alegria se junta, todos sorriem, o tempo passa. Tudo anda, desanda, pára. O silêncio toma conta, mas a máquina é incapaz de cessar, logo então, volta a andar. A meia metade do dia se passou, porém nada do tudo mudou. E olhando para fora vejo, que ainda estou sem ela. Passa-se o resto da finita manhã. A correria termina, o batimento se acalma, o fomigueiro abre, e se fecha, deixando todos os lampeijos de vida lhe esvaírem por terra. O que se arrasta para fora, e se perde em ruas infindas, só se encontra na solidão dos acompanhados. Tomando a frente, puxa o carro de bois carregando a esperança de que o homem assim é e por isso mudará. Morre hoje, morre amanhã, nasce hoje, nasce amanhã. E a máquina não pára. E eu continuo sem ela. Nada mudará. O fervor da outra metade do dia se anuncia, e os provérbios de meia-tarde chegam aos ouvidos como o som das cinetas. Caminho pelas ruas e me perco em pensamentos e alma. A perfeição passou por mim, mas eu nada consegui fazer para segurá-la comigo. Talvez nem tentado, talvez nem tente. A força é rala, o sentimento, rígido. Num explodir de emoções não tenho mais nenhuma. A confusão e o desejo, mas com a dor do inatingível. A anti-rosa atômica do amor, se perde entre fumaça e termina em quietude. Agora já a lua se chega, soturna, por entre nuvens e estoura em brilho e som, e a noite, com seu véu de sono, envolve a minha alma incerta, e poe pra descançar sob o cuidado de seu olhar atento. E ainda estou sem ela, ela que é a simpatia e a beleza, juntas numa valsa rasa pelos salões da eternidade.