O sorriso da manhã.

A poucos passos à frente, enquanto desço a minha rua, uma senhora uniformizada com o logotipo da prefeitura municipal varre a calçada; a cobrir-lhe a cabeça, um chapéu amarelo de abas largas.

Noto que o seu semblante personifica a monotonia do serviço que executa. Varre e varre, todas as manhãs exatamente iguais, o mesmo folhiço da mesma árvore naquela mesma esquina. Vai e vem, juntando em montículos o que a enorme árvore decidiu não servir-lhe mais. E sei que voltará na manhã seguinte, e ainda na outra, na outra ainda e em todas as outras manhãs dos seus dias sempre iguais. À exceção de uma abençoada aposentadoria, parece-me por nada mais esperar essa mulher.

Então eu a saúdo com um “bom dia”. E de repente a essência indissolúvel de nossos espíritos torna-se única e, a despeito de todo o peso do mundo, a mulher ergue a sua cabeça e põe à mostra, de sob o chapéu amarelo, o brilho matinal de seus grandes olhos e o rasgar de um sorriso que escancara as portas daquele milagre.