SAIA DE BAIXO

A mãe sempre insistia com a menina para ter cuidado com o visual. Se fosse a missa usasse um traje, ao colégio outro, para passeio era outra a roupa a ser usada. Alertava sempre a filha sobre a necessidade do uso da vestimenta ser de acordo com o ambiente. Porém, o que a mãe mais insistia, era que a menina usasse sempre a saia de baixo. Os motivos para o uso de tal peça eram sempre justificados: protegeria as partes intimas do corpo de Maria Clara nos dias frios; nas idas à igreja, seria um sinal de respeito, cobrindo alguma transparência do vestido e ainda evitando alguns dos olhares que a menina já poderia despertar.

Muito tempo depois, Maria Clara, em uma cabine de uma sofisticada butique de um shopping central, está indecisa entre uma blusa branca de voal ou uma peça de seda verde água. Ambas transparentes. Nesse momento, volta a lembrança da mãe, dos valores e pudores; da anágua; da saia de baixo...

Maria Clara, mulher feita, com o chemisier colado ao corpo, sem saia de baixo, pensa nas incoerências da vida e da grande necessidade que se saia debaixo, mas que saia-se debaixo das pressões, das intolerâncias e ameaças, das inseguranças e medos....

Que saiamos debaixo da nossa egolatria e ouçamos os gemidos sufocados dos mais fracos...que revendo os

nossos valores paremos de preocuparmo-nos tanto com o que tem debaixo da saia de baixo...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 12/05/2016
Reeditado em 13/05/2016
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