PONTOS DE VISTA.
“O hábito cria aparência de lei; o progresso não tem inimigo maior que o hábito.”    (José Marti y Perez)

É golpe, é golpe!
De pé no centro do “estabelecimento” do Serafim, cercado por uma dúzia de ouvintes,  punho erguido, rosto afogueado, Altamiro mais parecia D.Pedro I às margens do Ipiranga, inaugurando a independência!
Naquele fim de tarde brumosa e friorenta do domingo pós deliberação do Senado, por esmagadora maioria, aprovando a admissibilidade do processo de “impeachment”, Altamiro estava no auge da fúria, agravada pela recente derrota do seu Fogão para o Vasco da Gama, que assim se sagrara bicampeão invicto!
É golpe, é golpe, repetia ele socando o ar, enquanto sorvia um generoso gole da “branquinha”, felizmente “batizada” pelo “anjo “ Serafim, que, atrás do balcão se deliciava com o pensamento do inesperado aumento da receita.
Os circunstantes, muito mais interessados na “boca-livre”, encaravam as temíveis empadinhas e linguiças fritas em óleo diesel e se serviam das garrafas que atulhavam as mesas e deixavam a fala do orador entrar num ouvido e sair noutro.
- Os desgraçados dos “coxinha” inventaram a tal pedalada fiscal só porque a Presidenta passou a fazer seu exercício matinal usando uma bicicleta, os malditos!
Não há nenhum documento probatório dessa acusação e o processo sofreu vício desde seu estágio na Câmara dos Deputados, como, aliás, bem falou o AGU, Eminente Dr Cardozo, com Z!
Silêncio havia e assim permaneceu, audível, apenas, o tilintar dos copos e garrafas e, vez por outra, um belo arroto ou flato liberando os cáusticos gases provocados pelas iguarias.
... e uma reles minoria apelou para uma tal “contabilidade criativa” e outras insignificâncias para enredar a Presidenta e violentar a democracia  - continuava o Altamiro!
 
Arlindo, que farejara de longe a oportunidade de salvar o almoço, foi dos primeiros a se aboletar e, timidamente, obtemperou; - Mas, seu Miro, a votação – tanto na “Câmera” como no Senado e também no Supremo – foi “cotundente”, como me disse o dr Francisco, da farmácia da Praça...
- Uma besta quadrada, esse tal de Francisco, que só sabe receitar aspirina. E outra coisa, seu ignorante, as palavras certas são: Câmara e contundente!
Arlindo, já bem comido e bebido, faltando apenas a sobremesa, matreiramente foi saindo e sumiu na ladeira do morro, fato notado pelo Serafim, que franziu o cenho e coçou indagativamente a cabeça.
Enquanto o fogoso orador jogava conversa fora, o que ia entrar pela madrugada, lá no bangalô da Edi, a luz do banheiro acendeu e, após instantes, apagou. O mesmo aconteceu com a luz do quarto; só que esta apagou de vez...
Restou no ar um suave perfume de morango silvestre!
Bendita sobremesa!
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Imagem - Internet
                                    
paulo rego
Enviado por paulo rego em 15/05/2016
Reeditado em 15/05/2016
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