UM CONFRONTO DE GERAÇÕES

Cada geração deixa seu legado. Cada época, decênio, período histórico demanda uma ideologia própria, representantes, imagens que pintam na memória os feitos, as tramas, os acontecimentos marcantes. Evidentemente, as gerações não são iguais, como também as pessoas que formam o corpo de uma geração não têm as mesmas fontes de inspiração e disputam, por vezes, o poder e o legado seguindo, cada uma, a seu medo, complementando-se, em alguns momentos, pois não se pode viver apenas de diferenças, sempre haverá pontos de diálogo. Cada geração tem de uma para a outra uma imagem que frequentemente choca-se. A da atualidade estabelecida, os jovens, negativiza a passada, e o contrário também é verdadeiro. O fruto do presente, vem do passado e nem sempre essa crítica se efetiva com a potência da vocação de ser humano. Muito embora homens e mulheres tenham defendido, nos seus gênios, ideias, modos de viver, etc., ainda assim, são seres humanos, são homens e mulheres. São o fruto do que nasceram e do que a sociedade formou neles, desde o ventre materno. Mudam-se as épocas, mas isso permanece. A conquista do amor, as dores da perda, a felicidade do êxito profissional, o desprezo pelo que não dá o provimento da paz no seu da sua comunidade de viventes... isso não muda. Na linha sucessória das gerações, arrasta-se a necessidade primaz do homem: de ser reconhecido pelos seus pares e de solicitar o reconhecimento íntimo de outrem. Assim, por vias de uma nova geração que se estabelece, e de outra que morre, que esmorece pelas dores físicas, pela limitação impossível de abandonar, cujo relógio grita, continuam as mesmices de sempre, o amor, o drama, o coloquialismo das relações que geram as novas gerações. Imaginemos um mundo sem isso. Seria impossível formatar uma sociedade. São esses coloquialismos que geram a vida, que forma os seres, que colocam em posição de marcha a vivência no mundo, mesmo com suas contradições. E essas são importantes para o giro da corpulência de nossas existências terrenas. São as contradições que nos movem para entender o outro, o mundo, o que nos rodeia para, no fim das contas, entrarmos em unidade com o século. A tocha passa de mão em mão e nunca se apaga. Até agora a tocha não caiu. Quando isso acontecer, pode-se crer que o mundo acabou, a sociedade exauriu. A troca das tochas é importante, mas duro é ver ela indo para outras mãos. O protagonismo acaba quando a chama não clareia mais a face de quem carrega. Logo, a luz vai se esvaindo e quando ela termina, terminou a geração. Não é algo fácil. Muito sangue, muito suor até que isso se firma, um conflito de gerações. São as críticas aos valores, é a cessão de direitos para os mais novos atuarem, e o que mais pode-se colocar para a protelação do transcuro da tocha para novas mãos. Muitas vezes quem está para receber a tocha toma um susto. Quando se viu, está com ela nas mãos. A todo custo tenta entregar para seu antecessor. Mas, o caminho já foi percorrido e a luz dela está sobre sua face. Não há o que fazer. É caminhar e salvar-se preparando o ponto para o que virá. Tão incerto, tão diferente e tão igual, tão humano.