TOC e o Último Botão da Camisa Polo
-Toc, Toc,
-Quem é?
-Sou eu.
-Eu quem?
-Os seus problemas.
-Não sou quem você pensa.
-Não é você que gosta que tudo seja certinho no seu lugar?
-Não é bem assim.
Eu mudo a caneta de lugar.
-Não mexe, acabei de arrumar.
-O que acha disso?
-Só acho que você é muito chato.
-Chato? Só mudei a caneta de lugar.
-Você me irrita.
-Eu sei, TOC é chato.
-Não tenho TOC.
-Acho que sim.
-Desabotoa esse botão da camisa.
-Viu? Você tem sim. Se controla.
-Não consigo, as coisas tem que ser como eu quero, só assim me sinto melhor.
-Sua vida é como sua casa, tá tudo arrumado, não tem nada fora do lugar, até os mínimos detalhes.
-Porque eu tiraria as coisas do lugar?
-Para sentir que você não vai morrer se isso acontecer. O mundo continuará o mesmo.
-Mas eu não.
-Olhe ao seu redor. O que vê?
-Vejo que tudo está organizado.
-Está mesmo?
-Sim.
-Olhe com mais cuidado.
-Não é possível.
-O que foi?
-Eu não posso acreditar nisso.
-Agora percebes que há algo fora do lugar?
-Sim.
-E o que é?
-Eu mesmo. Eu estou fora do lugar, fora da minha própria vida.