Lamúrias

O sol anda se escondendo atrás de densas nuvens solitárias que derramam lágrimas de vingança enquanto ecoa uma canção de ninar soluta. Os dias passam alheios às vontades, sorriem em tom de deboche como se colocassem diante de mim as perdas semanais de tempo, um almanaque de desperdício de amor.

A vida não é um faz-de-conta, afinal. É um fazer-conta e torcer pra que sobre um tempo em que sejamos felizes.

Trago a garganta obstruída com sangue e gritos regurgitados em silêncio. O mundo é embaçado mesmo por trás das minhas lentes espessas. Hão mesmo de haver momentos em que o álcool não queima, o cigarro não arde e morro torna-se verbo. Dias onde o frio da madrugada incomoda-me e sinto falta de um abraço pra aquecer.

Mas o tempo não para pra te esperar parar de doer. O tic-tac é incessante. As árvores perdem mesmo as folhas no outono e poucos são os que aceitam tua ausência primaveril.

No fim, viver é sério demais pra ser o que você espera, o frio se esvai e restam apenas tuas raízes.

Gabi Lima
Enviado por Gabi Lima em 23/05/2016
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