Era só iso que eu estava esperando.

Quis a sua falta de noção que por um motivo qualquer ela despejasse sua arrogância em cima dele em forma de palavras. Ele, que não gostava de discutir nem de ofendê-la, e que acima de tudo a amava, embora ela não merecesse aquele amor tão puro, tão incondicional, preferiu não revidar. Também não saiu porta a fora porque quem ama, fica. Mas ficando também não conseguiu manter o espírito leve, pois estava com o peito magoado com os tapas que recebera da boca dela. E preferiu ficar num canto quieto, cabisbaixo, não deixando de falar com ela quando ela puxava assunto. Sim, porque ser estúpida era tão natural para ela que ela nem percebia e até esquecera o quão fora hipócrita.

Até que ela percebeu que ele estava muito calado. Não estava falando pelos cotovelos e rindo de tudo conforma mandava sua alegria de viver e seu bom humor. E por um momento ela refletiu sobre sua atitude anterior. Lembrou que havia exagerado e machucado quem não merecia. Se aproximou. O abraçou. Ele correspondeu o abraço. Então em um momentos desses em que o inconsciente é forçado a tomar uma atitude, disse: "Me desculpa!". E ele finalmente deixou escapar um sorriso largo. A abraçou ainda mais forte e sussurrou em seu ouvido: "Era só isso que eu estava esperando". Pois se por um lado ele era devagar, quase nulo, para demonstrar mágoa, por outro lado para manifestar amor e carinho era urgente.

Isso aconteceu há alguns anos, mas naquela época ela não tinha ideia do tesouro que possuía: o amor sincero, desmedido e descarado daquele homem, que apesar de ser ainda um menino de dezenove, era um homem com H, apaixonado, dedicado, inteiramente dela, um amante sem igual.

O tempo passou e como ela não estava no mesmo nível de evolução da espécie que ele, o universo se encarregou de colocar as coisas no lugar. Inevitavelmente ela o perdeu, e experimentou amores egoístas, frustrantes e doentios, e aprendeu lições.

Ela deixou de ser arrogante, mas nunca mais teve a sorte de ter um amor tão sincero, tão puro, tão verdadeiro, tão real, tão dela.

E escrevendo assim, em terceira pessoa, suprime um pouco a vergonha e a culpa da gente.

Joalice Dias Amorim (Jô)
Enviado por Joalice Dias Amorim (Jô) em 27/05/2016
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