NA SOLEIRA DA PORTA

Bem ali, junto aos degraus de madeira tosca, na soleira da porta, era o lugar onde a mãe exigia fossem deixados os tamancos usados pelo marido e pelos dois filhos, nas lides da lavoura. Ali também deveriam ser deixados os calçados usados por todas as pessoas, os quais deveriam ser trocados por chinelos, ao ingressarem na casa. Tal ordem, dada pela mãe, prendia-se ao fato da falta de calçamento no pátio e nas estradas provocar o acumulo de barro em todos os solados.

O interior da casa era um primor, o assoalho de tabuas largas brilhava pelo uso da cera, atividade que deixava marcados os joelhos da mãe, que pretendia assim ensinar os trabalhos domésticos, para a filha pequena. Maria Clara, que ajudando a mae, com uma pequena bucha de pano, contentava-se em encerrar os rodapés da grande sala de jantar, que era composta por uma comprida mesa com cadeiras de espaldar alto, e dois sofás os quais permaneciam sempre cobertos por longas colchas azul escuro.

Muito tempo depois. Maria Clara, 40 anos, empresaria e rica, descansa no solarium, rodeadas por amigas queridas, todas usando belos modelos de sapatos scarpam, afundam-e no grande sofá branco.

Enquanto as amigas divertem-se entre aperitivos e risadas, Maria Clara relembra saudosa a fila de calçados expostos na soleira da porta, que, lá no passado, a mãe insistiu em proibir a entrada, na casa de sua infância. A analogia insiste em se fazer presente, deixando claro o que deve ser deixado na soleira da porta.

Nesta hora a empresaria deseja sinceramente, que suas amigas tenham deixado o desamor, a tristeza e a inveja, bem ali, na soleira da porta!!!!!

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 29/05/2016
Reeditado em 03/06/2016
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