Ontem, depois de 2 anos, voltei ao quarto dele. Entrei devagar observando tudo. Estava exatamente como da última vez.
A minha foto ainda no porta-retratos sobre a mesinha a me falar do amor que tinha por mim. Suas roupas, caprichosamente penduradas nos cabides e dobradas nas gavetas, ainda tinham seu perfume... sua coleção de relógios, no bauzinho trancado, exibia o brilho e o orgulho de cada peça a contar sua história... Seu acordeon na estante parecia ainda ecoar as notas da última canção...
Senti um aperto no peito lembrando do amor que nos unia. Os olhos marejaram e então, a dor e a saudade, como finas lâminas, impiedosamente penetraram no âmago de minha alma. Tentei segurar a emoção. Não consegui. Senti as lágrimas quentes rolando em profusão pelo rosto. Deixei que rolassem... A ausência presente gritava em cada detalhe do quarto (des)arrumado.
Dois anos sem você, pai!
As lágrimas que ora derramo enquanto escrevo são de amor e saudade. Não me arrependo por ter decidido, naquele dia, não vê-lo inerte naquela fria e fúnebre urna. A imagem que queria guardar de ti eu a tenho no meu coração e daqui jamais se apagará. Nele estás sempre sorrindo.
Que estejas bem, a esperar por mim, pelos bosques da eternidade por onde agora andas.
Suzana França
Uberaba, 28/05/2016