E pelo tempo afora amei homens e mulheres. Amei com os lábios a seda, o sexo a mananciais proibidos, os olhos mordentes e o pulso suave, como só a agonia pode ser...
 
A verdade é que abri janelas e porões e simplesmente amei.
 
Com alguns tomei café em tardes de outono, quando as chuvas ardiam menos os telhados do que as solidões de dentro.
Com outros, vesti a pele, ou despi a minha, numa nudez tão pura e tão própria a quem se doa, ou se apaga, pra que o outro se acenda no ventre dum arrepio.
 
Amei homens e mulheres que rasgavam o peito a temporais !
Amei ainda mais os que mansos chegavam, lentamente se encaixavam e ali faziam ninho - Esses me traziam serena, noiva das constelações dos dedos.
 
Amei, amei e amei, Carlos e Clarices, Quintaneando primaveras nos abismos de meu peito.
 
[ ... Amei mais a eles do que a mim... ]
 
Amei as duras verdades, as vaidades e, sobretudo, sofri com as ausências nas madrugadas de sábado pra domingo, quando nenhum suspiro me cabia ; quando nenhuma vírgula me adoçava.
 
Não sei se hoje os amo tanto assim... afinal a vida nos rouba os sentires ; a vida caleja. E quando menos se espera dói-nos os próprios passos.
Ainda assim, dizem, o tempo vai e sopra, vai e desdobra sóis em varais de esquecimento.
 
E é nesse ponto que me esmero, nesse adiar-me que espero, enquanto acalmo as metamorfoses dessas borboletas que me habitam. 
 

 
 
 
 
[ Aos escritores que consumiram minha alma enquanto me alimentavam das suas. ]
Ouvindo... 

 

DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 01/06/2016
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