SEU BERBELO

Às vezes penso que o grande problema do brasileiro está relacionado com sua auto-estima, ou melhor, sua baixa auto-estima. Nós não nos valorizamos.

Enquanto persistir o espírito do coitadinho feliz que povoa inconsciente coletivo de todo brasileiro nunca iremos a lugar algum. Este pensamento do: Sou pobre, mas batalhador, já teve seu tempo e lugar, hoje só mostra o quanto ainda somos arcaicos. Parece que existe um medo inconfesso em relação à riqueza e uma felicidade em ser pobre.

A televisão esforça-se em perpetuar este pensamento, dá audiência. Meses atrás a Globo fez um programa apresentado pela “favelada” Regina Casé que nasceu em Copacabana, mora no Leblon e passa férias em Paris, mas jura que é “super legal” morar na favela. O programa enalteceu tanto as virtudes de ser favelado que até fiquei com vontade de vender tudo por aqui e comprar um barraco no Vidigal ou no Morro do Alemão. Não desmerecendo essa gente sofrida que mora em condições subumanas nas favelas pelo Brasil, mas somente lembrando o ditado que afirma que pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Domingo destes o Fantástico mostrou uma reportagem num quadro que mostra pessoas inventando alguma coisa interessante e útil para resolver necessidades de outras pessoas. O protagonista da semana era Berbelo, nordestino simpático que fugiu do sertão em busca de uma vida melhor, uma mistura de mecânico e artista plástico que se orgulhava de dizer que não compra nada, tudo que precisa ele mesmo fabrica e que mora em Paraisópolis, um bairro favelizado da cidade de São Paulo originado de um loteamento destinado a residências de classe A, mas que acabou sendo invadidos por famílias de baixa renda.

O que chamou a atenção não foi propriamente os seus inventos, mas sim a comparação entre os dois personagens que protagonizaram a reportagem.

De um lado o Berbelo, de outro o americano Marcin Jakubowsky, doutor em Física, ex professor universitário que mora em uma fazenda e tem um plano: Construir 50 máquinas que dariam ao homem a possibilidade de construir uma nova civilização. Seu Berbelo, mais modesto, pretendia inventar uma bicicleta elétrica para ajudar os moradores a levar suas coisas pelas ruelas estreitas da favela que, mal planejada e sem a mínima infra estrutura, não permite a passagem de carros.

Enquanto nós, os coitadinhos, ficarmos construindo quinquilharias, enclausurados em nossa pequenez, sempre acreditando que somos incapazes de merecer algo maior , incompetentes para promover grandes realizações, satisfeitos com nossas pequenas misérias diárias e principalmente contentando-nos com o pouco que nos permitem usufruir, jamais chegaremos a lugar algum.

Lembro-me que o mesmo programa nos anos 70 e 80 apresentava sempre como matéria de destaque uma comparação de como as coisas aconteciam por aqui e como era nos Estados Unidos. A diferença sempre era enorme, exaltando como os americanos eram adiantados em detrimento ao atraso tupiniquim.

Fomos uma geração que cresceu acreditando em nossa incapacidade e inépcia em fazer algo grandioso.

Precisamos rever nossos concepções e paradigmas, redescobrir dentro de nós mesmos o potencial que temos guardado e a capacidade de darmos a volta por cima, descobrir o obvio, que somos melhores do que pretendem que sejamos e muito mais do que o pouco que aparentamos ser.