Mensagens que edificam - 210

"A lei da selva"

O mais forte come o mais fraco; o mais fraco sobrevive com a companhia constante do medo e uma vigília que nunca termina, e se termina é provável que seja a morte que a culmina. Mas é a cadeia alimentar, e contra isso não há quem possa. A vida de muitas espécies depende do fim da vida de muitas outras, mas as que driblam as garras e os dentes afiados são excelentes procriadoras, e assim o remanescente está numa constante renovação, e o banquete e o funeral gastronómico nunca terminam. Isso parece sem sentido, mas é bem assim que acontece na sociedade. Há os predadores e os predados; os ricos e os pobres; os patrões e os subordinados; os formadores de opinião e os manipulados; os senhores do mundo e o gado...

Mas nesta cadeia, que talvez fosse melhor, se tal qual a selvagem houvesse mais equidade, seria realmente social, entretanto, de sócios só os parceiros de negócios, porque noutras situações é o famoso "salve-se quem puder". Nesta disputa de forças, território e poder, lembro-me de um ditado que a minha saudosa mãe dizia: "a corda arrebenta sempre para o lado do mais fraco", hoje, porém, isto me intriga, pois quem é o forte e quem é o fraco. Se os parâmetros forem os cifrões, para mim são indicativos por demais frágeis. O que mais assisto hoje são os tais poderosos da noite para o dia se verem na rua da amargura, e apanhados com as calças nas mãos. Nunca me diga o que tens, tampouco interessa-me saber das tuas posses, elas não me dizem nada. Aprendi que somos essência, e onde começa a capacidade de concatenar as ideias e enxergar que o verdadeiro mundo e os verdadeiros senhores não são os que se valem da aparência e da ostentação, mas os que não se deixam ser senhores feudais desta civilização contemporânea, mas nos bastidores auténticos escravos do seu poderio. O bem mais precioso muitas vezes é o mais escasso ou algo até já extinto, a paz de espírito e o direito à um sono tranquilo. Na lei da selva urbana pode ser que os reis não sejam leões, mas dóceis pombos que, despreocupados, diariamente paseiam pelos passeios e praças e se fartam de tantas guloseimas sem ter que trabalhar, e preocupações? Quanto mais se tem, menos sossego também.

Lael Santos
Enviado por Lael Santos em 12/06/2016
Código do texto: T5665517
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