CONCEITOS DE VIDA

ESCREVI ESTE TEXTO EM 30 DE ABRIL DE 2007, ALGUNS DIAS APÓS O SEQUESTRO DA MÃE COM SEUS TRÊS FILHOS. RESOLVI COLOCÁ-LO NO AR SOMENTE AGORA, MAS O ASSUNTO DE QUE TRATA O TEXTO, RELACIONADO AO FATO ACONTECIDO ESTÁ SEMPRE EM EVIDÊNCIA.

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Foram 56 horas em poder de um seqüestrador. Um marginal, com extensa ficha criminal, invadiu a residência da família classe média num bairro simples da cidade de Campinas, interior de São Paulo, e fez reféns mãe e seus três filhos pequenos, de quatro, sete e dez anos. Quase dois dias e meio de negociações entre policiais e seqüestrador, ameaças, tortura psicológica, medo sem fim, até que tudo acaba terminando sem mortes ou feridos em estado grave (fisicamente falando, pois o lado emocional devia estar abaixo de zero). E a nossa mídia, como sempre faz em casos assim, dando seu show particular com transmissões dramáticas, julgamentos precipitados e outras asneiras sem sentido.

Terminada a dramática e aterrorizante aventura para aquela família, assisti a uma reportagem em um canal aberto (no jornal transmitido em horário nobre), cuja chamada havia sido mais ou menos assim: “Mãe seqüestrada junto com seus três filhos diz que após a ‘traumática’ aventura, mudou completamente seus conceitos de vida”. A reportagem em si mostrou simplesmente o óbvio, mas foi bom ter assistido pois encontrei motivos para escrever este texto, aguçado pela tal reportagem.

Percebo ser uma constante as pessoas mudarem seus conceitos de vida logo após passarem por experiências traumáticas, como essa vivida pela família de Campinas.

Eu também já passei por experiências desse quilate (e não foi uma só) e posso garantir que o primeiro pensamento que me veio à mente foi justamente esse: daqui pra frente vou mudar minha forma de encarar a vida, vou ter mais tempo para mim e para aqueles que amo, vou pegar mais leve no trabalho e mais uma infinidade de promessas que se encaixam direitinho no “vou mudar meus conceitos de vida”.

Aí vem a pergunta:

Por que nós só pensamos em mudar nossos conceitos de vida após a passagem por essas tais “experiências traumáticas”?

Fica evidente que essas mudanças sempre seriam para o “nosso melhor”, pois nos tornaríamos mais justos, mais bondosos, mais compreensivos e tolerantes, ter o sorriso mais fácil... Dentro deste contexto, seríamos os novos bons samaritanos de plantão, incapazes de maus pensamentos, uns verdadeiros santos.

Não é por aí. Sempre achei que esperar acontecer algo para só depois fazer outro, é um verdadeiro retrocesso de vida.

Assim como não precisamos esperar nossos filhos casarem para realizarmos aquela tão sonhada viagem, por exemplo, não precisamos esperar também para mudarmos alguns conceitos que praticamos mas que, no fundo, achamos não serem os mais adequados.

Pense bem: se praticamente todos mudam pelo menos alguns conceitos de vida depois das “experiências traumáticas”, é porque são conscientes de que algo já estava errado na forma de agir, de pensar, de se comunicar, de ser...

Então, pra que continuar vivendo em desacordo com o que você mesmo pensa, no aguardo de alguma “experiência traumática”?

Mude, pratique, faça diferente... Seja feliz, enquanto há tempo!

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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 16/07/2007
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