9. Elixir Revigorante

Agora percebo que estou começando a ser capaz de usufruir desse poder que sinto existir dentro de mim – ele brota do âmago de minha existência, poderosa e imponente, rasgando todas as minhas vísceras!

É preciso estar ferido! Perturbado! Derramando o Elixir da Vida que transborda da beirada desse cálice maldito de dor dilacerante – somente a dor, cara companheira e companheira cara, nos faz perceber que existimos! Faz-nos sentir a vida fluir por nossos corpos mesquinhos!

A Felicidade é uma vadia! Megera! Entrega-se a todos os seres, sob diversas formas, mas através de um embuste digno de aplausos: ninguém a sente! Todos a têm, mas todos não a têm também! Procuram, malditos, por Ela em todos os cantos desse mundinho insignificante!

Leve demais, não se faz perceber. Serena demais, não se deixa notar. Embuste desgraçado!

A Felicidade é uma pluma!

A Dor é chumbo!

Peçonhenta, embriaga Chronos e faz desse Velho Eterno, nosso carcereiro, um mero imbecil!

Lasciva, joga-nos, prisioneiros, contra o chão com violência excitante e estupra nossa existência!

É preciso estar ferido! Perturbado! Sem isso não se acham as expressões verdadeiramente boas, penetrantes, dignas! As frases de raios X que alcançam o âmago das ideias e as transmitem com magnânimo êxtase aos ouvidos de quem estiver interessado em se deliciar com a Vida, com a Dor, Elixir Revigorante.