A vida de um universitário

Nota¹: Este é um esboço de um futuro livro que estarei lançando. Há outros que serão lançados, mas por falta de tempo e criatividade, ainda não as conclui, porém você pode encontrar uma prévia em meus últimos textos.

Nota²: Estou cursando farmácia, e por estar gostando, principalmente do ambiente, resolvi escrever minha trajetória; desde o recebimento da nota até a minha caminhada como formando. Nem tudo que está escrito é verdade. Eu adaptei algumas coisas, mas em essência é tudo verídico.

Dias antes

Era de manhã. Talvez umas sete horas ou nove horas. Havia muitas ligações perdidas. Não costumo mexer muito no celular. Todos sabem disso, mas ainda insistem em me ligar. Eles queriam me avisar algo sobre o resultado do vestibular. Particularmente eu não tinha me saído muito bem. Se estudei o ano todo? Sim, eu estudei. Se fiz uma excelente prova? Eu não sabia.

Me colocaram no pior tipo de colégio possível. E não era a primeira vez que isso acontecia. Ano passado eu fui posto em um colégio que ficava a quase 30 milhas da minha casa, e ele não era um colégio bom. O que salvou naquele dia fora a praia que ficava bem perto.

A escola em que fiquei era quente. Não tinha vento, apenas um pequeno ventilador, enferrujado, que foi desligado por conta do barulho que ele fazia. As cadeiras eram duras e minúsculas. Para poder sentar eu tinha que desenvolver uma técnica, se não o desconforto me pegaria. Primeiro eu me sentava, relaxava as pernas e as cruzava. Logo em seguida eu tinha que esticá-la para debaixo da cadeira da pessoa que estava a minha frente. Tive que ficar nessa posição por quase cinco horas.

Além do clima e do tipo de sala, eu enfrentei o pânico. Quando fico sobre pressão eu costumo surtar. Há duas provas para se fazer, uma no sábado e outra no domingo, que é a mais importante. Nessa prova do domingo eu a fiz com muita calma, porém perdi a noção do tempo e me distraí nas questões. O tempo passou, eu ouvi a sirene da escola, e então surtei achando que a prova havia acabado.

“Pronto, perdi um ano estudando para que? Não acredito que isso aconteceu”, pensei. Fui marcando feito um louco o gabarito da prova, tentando desesperado completá-lo, quando o fiscal diz: Faltam cinco minutos. Inúmeros palavrões surgiram na minha mente quando ele fez esse anuncio.

Agora que eu estava tremendo pelo susto, tentei me controlar e marcar com calma a prova. Entreguei e assinei a ata de últimos alunos que concluíram a prova e fui para a casa, andando é claro. Tinha que me acalmar.

Ainda com o surto, cheguei em casa decepcionado. Na minha cabeça eu tinha feito uma péssima prova e só queria saber do meu chá. Como não tinha, fui comprar com minha irmã e novamente em casa, preparei-o com um pouco de vodca e tomei. Bem, não funcionou.

Fui ver meu amigo, o Victor, e lá conversamos sobre a minha prova. Expliquei o que tinha acontecido e ele me deu o tipo de apoio que qualquer amigo próximo diria: Se ferrou, nem vai entrar este ano. Só tenho amigos assim. Eles sabem que gosto de humor negro, então esse tipo de coisa é engraçado para mim.

O tempo foi passando e chegou o dia para saber o resultado daquela prova. Meus amigos me ligaram, e eu não atendi. Mandaram mensagens pelo WhatsApp e apenas visualizei. Algumas das mensagens eram comemorações por terem entrado no curso desejado, e outras eram só perguntas sobre minha nota.

As mensagens me deixaram curiosos, porém muito ansioso para ver a nota. A ansiedade acabou vencendo e eu resolvi não olhar naquele dia, mas minha mãe insistiu em saber e não se diz não para a sua heroína. Entrei no site e vi a nota. Me decepcionei. Queria ter me decepcionado no outro mês, no dia das inscrições. O curso que eu desejava era medicina, porém faltavam 80 pontos para estar na seleção.

Minha mãe tentou me consolar. Ela sabe que sou perfeccionista e que queria a nota exata ou maior para o curso de medicina. Não ter entrado me deixou muito mal, mas não tanto quanto ao fato d’eu não estudar com minha antiga namorada, Alissa. Ela entrou para o curso e eu não. Não contei a minha nota para ninguém. Todos os meus amigos tiraram notas boas, e apenas eu fiquei de fora.

Fomos comemorar nossas notas em um pub que nunca tínhamos ido antes. O nome era Country Rock Bar. Pelo nome eu já imaginava como seria. Havia um touro mecânico onde, depois de muito beber, fomos nos divertir.

Alissa foi a primeira, como sempre. Não falei muito dela ainda, mas uma coisa que sempre chamava a minha atenção era o seu jeito meio louco como o meu. Ela não se importava com julgamentos de olhares, aqueles que te encarram como se você não fizesse parte desse mundo.

Como sua família era do interior e eles montavam muito em animais, ela foi quem mais aguentou ficar em cima daquele touro mecânico. Até bateu o recorde da casa, e ganhamos mais uma rodada de bebida.

Estava tudo ido bem. A noite era nossa e eu nem me lembrava daquela minha péssima nota. Bebemos mais um pouco e fomos andar na praia. Pegamos um táxi e ele nos deixou perto do que chamamos de Ponte de Pedra. É um tipo de estrada que vai um pouco além da beira do bar, e é todo feito de rochas gigantes.

Passamos nosso tempo lá até o sol amanhecer, e quando ele surgiu... Não sei como é em outros lugares, mas onde estávamos foi perfeito. Lá no horizonte vimos a primeira ponta do sol surgindo. Os pássaros passavam e cantavam. O som do mar misturado com a calma brisa, ainda gelada. Fechei meus olhos, me deitei na pedra onde estava junto com Alissa, abraçando-a e confessando que aquele momento com ela fora um dos melhores que eu já tivemos, até que ela diz “Lucas, você ainda não disse a sua nota. Vamos estudar juntos na faculdade de medicina, certo?”.

O que eu poderia dizer? Eu só queria esquecer aquela nota. Eu lhe disse que não tinha ido muito bem, e que muito provavelmente não estaria com ela, pelo menos naquele semestre. Depois o clima ficou um pouco pesado, principalmente pela forma que contei a notícia. Eu realmente estava arrasado. Recebi um beijo, suas palavras de conforto e continuamos abraçados, vendo o sol nascer, porém decepcionado.

Algumas semanas depois eu fui pressionado pelos meus pais a escolher o curso que deveria seguir. Não queria nenhum outro que não fosse medicina. Fora que eu queria estar com Alissa. Fui pesquisando cursos parecidos e encontrei farmácia. Meus pais logo desaprovaram pois achavam que o farmacêutico era apenas o sujeito que fica atrás de um balcão. E eu também achava isso até que conversei com um professor de farmacologia e ele me explicou como era o seu trabalho. Me encantei com pesquisas e industrias. Era um ramo que dava muito dinheiro e eu poderia realizar aquele sonho bobo de trabalhar com minha namorada no futuro.

Não deixei, é claro, de ser zoado por essa escolha. Até minha garota brincou dizendo “Tu vai vender quanto a droga?”. Alguns disseram, e esse foi o pior, “Cinco anos cursando para terminar no balcão”. Todos rimos.

Me doía saber que não estaria com eles no próximo ano. Eu não morava perto da Alissa. Nos conhecemos há tempos, porém ela morava algumas cidades depois da minha, e mesmo com a distância acabamos juntos, porém o que iria acontecer? O medo de nos separarmos era constante e já tínhamos cinco anos de namoro.

Conversei com ela e, como sempre, ela me consolou. Ela era perfeita. Não havia garota melhor do que ela naquela época. Até minha mãe, que era uma daquelas mães super protetora e ciumenta, a amava. As duas se davam bem.

Antes da Alissa eu conheci outras garotas e sempre tive a desaprovação de minha mãe. Uma vez, quando levei a segunda garota com quem me relacionei para um almoço, a fim de apresentá-la a família, minha mãe chamou a garota de medíocre. Isso a constrangeu muito. Não que ela, minha mãe, fosse arrogante ou uma má pessoa. Foi apenas seu instinto protetor. No mesmo dia ela pediu desculpas.

Ela até deixava nós dois dormindo juntos. Que tipo de mãe conservadora faz isso? A minha confiava que nós não iríamos chegar na terceira base, e ela estava certa. Só chegamos na segunda. Talvez quase na terceira, mas nunca na terceira.

Krabat
Enviado por Krabat em 19/06/2016
Reeditado em 05/01/2017
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