Língua Mater - O cartaz
Uma série de casos em que a língua portuguesa é a protagonista.
Certa ocasião, fui executar serviços em uma empresa, que levariam alguns dias de trabalho. A hora do almoço fui convidado para fazer a refeição no restaurante exclusivo dos funcionários. Ao chegar no estabelecimento, em cima da linha de servir-se, deparei com um enorme cartaz com os seguintes dizeres:
"NÃO FALE SOBRE A COMIDA"
Aquilo me deixou intrigado. Qual seria a necessidade dessa advertência? Afinal, seria o cozinheiro tão sensível a ponto de não suportar críticas ao seu trabalho? E se alguem tivesse uma mal estar?
Descartando qualquer tipo de gaudio, dado o caráter oficial do cartaz, aqueles dizeres me desagradaram demasiadamente. Engoli seco meu descontentamento e procedi conforme manda a etiqueta: "em Roma faça como os romanos".
Passado o dia, a indignação foi tomando proporções maiores, ainda mais quando imaginava a hora da janta e o reencontro com o famigerado cartaz. - Não é possível, deve haver algum equívoco nisso tudo! - pensava.
Quando voltei ao local para preparar a janta, novamente não pude ignorar os motivos do meu mau-humor. Ao olhar em volta e ver que os outros agiam naturalmente, atendendo a orientação, me deu um estalo e cai em gargalhadas. Isso mesmo, tive uma epifania.
O cartaz não estava se referindo a "comentar a respeito da qualidade da comida", mas, "não dialogar EM CIMA da comida, na linha de servir".