NÓS E NOSSOS FILHOS

Li uma crônica onde o autor afirma categoricamente que os pais não fazem parte do projeto de vida dos filhos, apesar dos filhos sempre estarem presente no projeto de vida de seus pais.
 
Outra afirmação, esta feita por um famoso escritor nos anos 1980 diz assim: “nossos filhos não são nossos filhos, são filhos do mundo”.

As duas são incômodas, mas, quanto à segunda, entendo que nossos filhos são nossos, sim, e que carregarão para sempre a força de suas origens, incorporadas a eles desde os tempos do berço.
 
Como sou pai de dois filhos já adultos, tais afirmações, a princípio, me causaram certo mal estar, principalmente pelo amor incondicional que os pais sempre dedicam a seus filhos. E eu, claro, não sou exceção.

Para nós, pais, os filhos sempre serão “nossas crianças”, independente da idade que tenham. Aqui em casa os dois já saíram para o mundo e foram viver suas vidas ao lado de quem encontraram para seguir na jornada. Apesar disso, o quarto que ocupavam continua do mesmo jeito, com suas camas, seus discos, seus livros e também algumas de suas roupas pessoais. Nostalgia pura de um pai perdidamente apaixonado pelos seus filhos. Um pai que, por vezes, no escuro e no silêncio da noite, ainda vai até o quarto deles, senta-se em uma das camas e põe-se a pensar e recordar os momentos mágicos vividos junto com eles. E, fato inexplicável, ainda imagina que eles estariam dormindo ali e acordando cedo para ir trabalhar. Isso não se explica, se aceita e ponto final.
 
Quanto a estarmos ou não no projeto de vida deles, é algo com que acabei me acostumando e não carrego neuras por causa disso. O viver mudou muito nestes últimos anos e hoje os filhos fazem seus próprios projetos e planos futuros, esboçam seus desejos apenas para eles próprios e viajam em busca da realização, sem se preocupar com o que fica para trás e com as próprias pessoas de suas relações.          
 
Honestamente, eu gostaria de estar no projeto de vida de meus filhos, principalmente se, no futuro, a vida me pregar alguma peça. Mas isso não sou eu que decido.
 
O que sei é que hoje, além de meus, eles também são do mundo, aquele mundo que os acolheu e que eles escolheram para seguir.

 
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