DESCOBRI QUE MORO LONGE
Minha avó morava logo ali, está vendo? e o seu Zé, o dono do comércio, mora na outra rua. Lá a gente compra balinha, baladeira e peteca, mas não é aquela feita com penas, é aquela bolinha de gude, me disseram.
O nosso campinho fica ali depois daquela curva, perto da casa da dona Maria, ela é uma boa senhora, mas não devolve as bolas que caem no seu quintal.
Tudo fica aqui pertinho, posso ir correndo e nem me canso. Mas o pai me disse que no Centro tem praça, com água subindo e descendo numa fonte. Ele disse que o comércio que tem lá é maior que o do seu Zé, que lá eles não chamam de bodega, o nome é supermercado, coisa de super-herói, eu pensei.
O pai disse, que lá tem parque e uns brinquedos grandões, eu quase não acreditei
- Igual na televisão pai? eu disse num pulo.
- É sim neném. ele disse sem mudar a vista da estrada. - Mas aqui é longe das coisas, não dá pra levar você. completou.
Eu achei que morava perto de tudo, da minha vó, do seu Zé, do campinho... Mas tem umas coisas boas na vida, que gente que mora aqui não pode ir, porque aqui é longe, mesmo eu não sabendo o quanto.