GRÁVIDA DAS COISAS PR'A DIZER

GRÁVIDA DE COISAS PR'A DIZER


Deixou suas ideias sobre o tapete.
Na entrada uma mentira quase nada
perdendo a metade de tudo
qu'eu acreditava ser verdade.
Deixou as chaves na varanda
parecendo que havia pulado
saindo voando feito pássaro.
Ele criou uma vontade
que não vivia no ambiente
entre a sala de estar e a entrada
maldita agora torna qualquer
coisa de sagrada intocada
intransponível maleável pelo tempo
que aborta meu tempo
quando entrei na porta.
Eu vinha pronta pra ser
a mesma que fui ontem, quando
saímos dançando até o quarto
ficamos confusos do intruso
vivendo por ter sido bebido
estava nos vasos sanguíneos,
estava no efeito divino , das
nossas aparências infames.
Eramos apenas duas vozes
"duas nozes abertas sem fruto
caídas no rio que corre doente"
por carente que esteja o corpo
o sopro de uma verdade me acorda
e não amarra minhas agonias.
Acordavamos estúpidos!
E era tudo avulso nada de louco
nem este " pouco" , que eu trazia
até chegar perto da porta.
Agora , " da uma idosa desfolhada"
esmagada de tempo querendo
deixar o vento trazer minha sepultura.
Procurava as magias secretas
pra tornar-se bela frente ao espelho.
Em plena juventude do abraço
fraterno da vida, da suavidade
que o luar cobre de sonhos
outros homens que andam na rua.
Rasgava os papeis do teatro,
aceitando este retrato pintado,
o depressivo momento da entrega
oferecia mais estrelas, que aquele
brilho intenso , momentos que
passavamos juntos.
Ele despontava no meio do palco
com um terno amassado
de camisa aberta
um "idolo de barro" descendo
as escadas deixando pegadas
e as marcas dos lábios
no copo em cima da mesa.
Sempre de surpresa , entrava
pela janela, surpreendia!
Essa dor que sinto agora
que aleija meus passos em direção
ao começo de tudo...
Ninguém prevê futuros
pelos caminhos que viajamos,
podemos até mesmo ver no escuro!
"Um cego iluminado pela surpresa
de ver clarear o dia
logo tem a certeza do que sentia"
Eu ainda não havia lido sua carta
aquela ideia no tapete jogada
como despedida , logo sentida
do frio que vinha de dentro.
E voce, sendo a fome da alma
que chega querendo um pedaço
que seja do calor que precisava,
fiquei grávida das coisas pr'a dizer.