REFLEXÕES DA INSÔNIA
Às vezes, a ignorância pode ser uma dádiva. Ela não causa conflitos, não se ressente da falta de nada, não subestima, não discrimina. O ignorante vive apenas, sem questionar a natureza e suas mudanças. Não quer saber o porquê das coisas; aproveita-se delas, convive com elas e vai adiante. Se chover ou esfriar é porque deve ser assim; se fizer sol ou ventar, nada haverá de anormal. Ele vê um rio correr e apenas o aprecia, porque é assim que deve ser; confronta-se com o pôr-do-sol e se senta para observá-lo porque as cores enchem seus olhos de alegria. Porém, ele não se pergunta nada: experimentar cada momento lhe basta.
Já o conhecimento pode ser muito cruel. Ele cria curiosidades que nem sempre fazem bem; provoca reflexões, muitas vezes, inquietantes a ponto de tirar o sono. Quem o tem perde a simplicidade e a inocência do não-saber. Torna-se um constante questionador das coisas e do mundo a sua volta; vicia-se em justificativas e explicações nem sempre simples ou acessíveis. Vive em busca do que não sabe o que é ou do que nem sabe se existe. É uma espécie de caos que se cria na mente e que jamais se considera satisfeito com o que vai experimentando e descobrindo. Por meio dele, criam-se conflitos, fazem-se guerras, destroem-se planos e esperanças.
Por outro lado, a sabedoria, diferente dos dois, essa só faz bem. Ela traz equilíbrio, capacidade de fazer bons julgamentos e de transformar o mundo em um lugar melhor para si e para os outros. O sábio não questiona o outro: questiona-se em busca de uma resposta que já está dentro de si mesmo; falta apenas descobri-la. Utiliza-se da sabedoria como ferramenta para o autoconhecimento e, por consequência, para poder entender melhor os que estão ao seu redor, sem o filtro mesquinho da pré-concepção, da soberba, do egoísmo.
Quem dera pudéssemos ter de cada um deles a medida certa que nos permitisse viver melhor, em harmonia com nós mesmos, com nossos desejos, com nossas crenças, com os outros, com o mundo que nos cerca.