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As impressoras têm sentimentos e não são nada bons
 
Por algum mistério tecnológico, as impressoras me odeiam. Fazem de tudo para me provocar, irritar. Elas até funcionam normalmente na maioria das vezes, principalmente se o que estou imprimindo não é algo muito importante. Acho, porém, que elas têm algum tipo de sensor. Basta elas notarem que estou com pressa, ansioso, elas encrencam. Às vezes eu disfarço, dou até um sorriso e faço de conta que está tudo bem. Acho que elas têm uma conexão wireless com meu cérebro e sabem de tudo que se passa em minha cabeça. Por falar em “sem fio”, desde que elas adquiriram este novo status, ficaram ainda mais arrogantes. Elas conectam sim, mas só quando estão de bom humor ou têm algum interesse secreto. Eu falei “bom humor”? Isso mesmo elas têm sentimentos e não são nada bons. Têm raiva, são vingativas e coisas do gênero. Não faz muito tempo, precisava imprimir material para uma aula de português para um gringo e pensei comigo mesmo”: “Só falta essa desgraçada falhar bem agora que estou atrasado”. Dei um sorriso para disfarçar meu ódio, entretanto, de nada adiantou. Ela até fez aquele barulhinho típico de quem está se preparando, ajeitando o papel, e nada. Em vão tentei mais uma vez.
Saí para minha aula me preparando para uma boa desculpa. Hoje, exercícios orais, nada de papéis, precisamos ver como está sua pronúncia. Conversa fiada! Até que não foi mau. Voltei, decidido a dar uns tapas na dita cuja, mas me contive. Poderia muito bem existir uma associação protetora de impressoras e afins e aí, sim, eu estaria bem arrumado. Abri a porta, dirigi-me até o pequeno escritório e que surpresa. Lá estavam as 15 páginas todas impressas, sem defeito. Agora não precisava mais e eu quase mandei ela... lá estou eu perdendo minha compostura de novo por causa da dita cuja.
Tenho esperanças, no entanto. Quem sabe se, com essa história de tecnologia quântica, eles não inventem uma impressora perfeita, extraquântica, que satisfaça todos meus desejos de imprimir. Uma impressora fria, técnica, sem sentimentos vulgares. Quem sabe? Acabaríamos de vez com essa arrogância opressora. Impressionante? Talvez impressiva? 
 
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 30/06/2016
Código do texto: T5683537
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