AMPULHETA ANSIOSA

Escrever uma crónica a olhar a ampulheta é o que hoje acontece a quem seja profissinal das letras em jornais. Há prazos a cumprir porque o público está à espera da última palavra sobre o que vai no mundo. Eu pesoalmente não tenho prazos qundo escrevo e como escrevo com muita maturação (lentidão) mastigando, digerindo esculpindo palavra por palavra em golpes de inspiração e fúrias de censor que risca, rasga e apaga resulta que nunca me sentiria capaz de ser um relator ou comentador do quotidiano. Os dias os casos e as causas passam tão depressa que para os acompanhar há que superar essa força de aceleração do nosso tempo, avesso à pausa para pensar. E talvez fosse bom pensar, ou dormir com fé nos conselhos do travesseiro, mas não há tempo nem para para pensar nem para dormir. Que pena!

No avassalo torrencial da notícia quotidiana quem pode resistir à corrente. Os astronautas para alcançaram uma visão sublima da Terra, o silêncio sideral, o êxtase da contemplação do Universo, e alcançar a libertação desta força que nos amarra à Terra sofrem a sua violência até limites que para nós comuns cidadãos não seria aconselhável. Este nosso stress caseiro é já bastante para nos provocar colapsos psíquicos, cardíacos ou demenciais.

A expectativa dos nossos dias é ansiosa, ora esperamos o Brexit, ora o autocarro, ora o fim do mês ora o fim do dia ora o telejornal ora a telenovela ambos nos deixando pendurados no amanhã que nos trará em vez de desfecho feliz, notícia infeliz, uma bomba no cais, naufrágios de botes apinhados de gente fugindo COM CRIANÇAS da guerra, a novela de novo feita num novelo e a felicidade nossa e da da ficção ao alcance da mão desliza de novo para o amanhã, que trará apenas uma nova versão que é repetida; trânsito do inferno, buzinas e sirenes estridentes, um clima de trombas e o chefe também e a queda do sistema que nos bloqueia o computador e a mente arrasada logo pela manhã. Resta o telefone do serviço que toca de novo, de novo ao serviço da mulher. Que quer esta outra vez ? Bonito serviço!

Quem pode ter fé no amanhã, com a mesma mulher, igual trânsito, sirenes e alarmes que não dormem nem deixam.computadores pessoais anti-pessoais como as minas, e televisão com canais demais.

Talvez o abrigo deste mundo esteja nos locais de fé. Há sítios desses mas eu ainda evito porque ainda acredito que depois de amanhã há outro dia. È o meu juízo final.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 09/07/2016
Código do texto: T5692482
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