Parabéns, Manuelzinho

Com muito carinho, resolvi chamar aquele garoto inteligentíssimo de Manuelzinho.

Hoje, lendo alguns noticiários eletrônicos, me deparei com a imagem de um garotinho português consolando um rapaz francês após o final da partida decisiva da Eurocopa.

O que aquele menino estava pondo em prática era o exercício da compaixão, da amorosidade e do respeito gratuito a uma pessoa por ele desconhecida, teoricamente rival no desejo do resultado do jogo.

Exercitava também a cidadania, o respeito às diferenças, aos gostos e paixões. O dito Manuelzinho tocou no braço do rapaz cabisbaixo, falou algumas coisas, sem nem um traço do deboche, e recebeu um abraço do Pierre – vou chamá-lo assim.

Esse garoto – e o Pierre também, que aceitou o afago inocente e abraçou calorosamente o infante – estão dando mostras de como é possível se construir um mundo mais amigável, menos rançoso, menos dramático. Um mundo com possibilidades de respeito às decepções alheias... e que a vida segue, seja quem for o vencedor da partida.

Quando eu ainda estava atuando em sala de aula eu gostava de dizer isso aos alunos: cumprimentem o adversário quando ele for ganhador do jogo. Nunca saiam blasfemando, criticando, provocando confusão. E eu comecei a agir assim com eles, embora estranhassem muito. Até inventei que eu era uma grande torcedora do Palmeiras, mas, na realidade apenas acompanho o gosto fubebolístico do meu filho. E eu fazia questão de cumprimentar, de pegar na mão dos corintianos quando vencedores. Alguns até se acostumaram com isso. Algumas vezes eu fiz algumas barras de chocolate e levei para os corintianos vencedores, embrulhadinhos de branco e preto e eu dizia “fui eu que fiz”.

É impossível se construir um mundo com possibilidades de amor sem estar sempre atento, pois tudo muda o tempo todo no mundo. Não se pode perder as oportunidades do abraço, do sorriso, da temperança. A vida é curta e não pode ser pequena. Que bom que o Manuelzinho entendeu isso tão cedo.

Vida longa prá você, garoto. E seja muito, muito feliz, semeando compreensão, empatia, paz e, sobretudo, compaixão.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 11/07/2016
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