LEOPOLDO, UM BRASILEIRO

As noticias eram ainda da copa de setenta, naquele jornal velho que Leopoldo usava para forrar os sapatos pretos, de sola gasta, com os quais ele atravessava as poças de agua, imensas, que a chuva torrencial desabara na noite anterior.

Leopoldo sai de casa, cedo, antes das seis, pega duas conduções para ir ao trabalho. No primeiro ônibus, lotado, é uma briga de casacos molhados, capas e sombrinhas. O guarda-chuva de Leopoldo quase é quebrado na porta, que é fechada com o veículo já em movimento. Na segunda condução, com o dia já clareando, Leopoldo consegue sentar-se. O banco ao lado está ocupado por um senhor mulato, quase dormindo, parece cansado do trabalho à noite. Talvez guarda noturno.

final da linha, todos descem. Leopoldo acorda o senhor mulato, que assustado procura a sacola e seus pertences, quem sabe a vianda vazia.

A distancia do terminal de ônibus até a fabrica de tintas, onde Leopoldo trabalha como Ajudante, há mais de cinco anos, é de quase um quilometro. São mais dez minutos, nos quais Leopoldo encontra bêbados e meretrizes, vindos da orgia e fugitivos do dia; encontra operários apressados e atrasados; crianças chorando, tiradas cedo da cama, filhos de mães trabalhadoras, que irão para creches. Todos são transeuntes de um mesmo caminho mas de um destino distinto.

O relógio ponto carimba oito horas no cartão de Leopoldo.

Embora sua jornada de trabalho nem iniciou ele já se encontra cansado, e pensa nas próximas oito horas que virão....

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 11/07/2016
Reeditado em 12/07/2016
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