MEDIANTE UM TRAGO
MEDIANTE UM TRAGO
Minha amarga mais doce
alguém tomou escondido
posso ver o rastro
posso sentir de longe
deixei no armário hospedada
me esperando
encontro-a vazia sem nada
espelho de vidro me olhando
quem sabe ainda tem alguma
gota p'ra um deleite
de fim de tarde
mas o vício é perverso
não deixa sobras de nada
e ainda por cima com todo alarde
vejo ilustrado no comportamento
das suas pernas toda garrafa
e o rótulo me ofendendo
pela boca
e o sufoco de que tal sereno
saia e caia torne-se de novo
para que eu possa beber
mas não queria te conhecer por dentro
ser o centro das atenções
de todo chão na recaida
pela emoção que subiu a cabeça
traindo as aparências de boemio
sabe que o tempo retarda
então volta pra viver de novo
depois de todo o trago
sobra as essências saindo
sem pedir licença
pra que todos possam ouvir
o clamor do desejo refreado
de todo organismo chapado
quando voltar a ver-me com
teus olhos
talvez saiba explicar-me
onde foi nestas horas.