Oportunidades para os excluídos

Nos meados da década de 90, participei de um grupo de voluntários que distribuía pães e café aos moradores de rua de Belo Horizonte. Nossa intenção era, além dos alimentos, tentar, de alguma maneira, nos aproximar deles, transmitir algo de bom. Mas, como em todo trabalho assistencial, recebíamos e aprendíamos muito mais do que julgávamos levar. Lembro que, ao chegar em casa depois daquela atividade, agradecia por ter uma cama que era só minha, guardada dentro de uma casa onde sempre seria bem recebido. Com o tempo, fomos aprendendo que a grande maioria daquelas pessoas estavam ali porque as coisas não saíram como planejado. Suas histórias eram muito semelhantes, vinham do interior tentar a vida na capital, mas, devido a "falta de sorte", acabaram ali, naquela praça ou debaixo daquela marquise.

Algo que nunca esquecerei foi o que escutei certa vez de um homem,pintor de profissão, que dormia ao relento em uma calçada na região hospitalar. "Olha moço, quer saber o que é mais difícil, não é a gente ficar aqui neste frio todo, o que dói mesmo é o jeito que as pessoas que passam aqui olham pra gente."

Tudo isso me voltou hoje ao ler uma reportagem sobre o "Projeto Olhe", uma iniciativa que está transformando a vida de muitos homens como os que conheci naquela época,homens que, "laboriosos, apenas lhes faltava o labor."

"O projeto Olhe, criado pelo Coletivo Criativo F5, é o primeiro banco de currículos de pessoas em situação de rua no Brasil. A iniciativa nasceu a partir da observação do grupo de que todos os dias, milhares de moradores de rua sofrem preconceito e são ignorados pelo restante da população. O projeto coloca em contato ONGs que auxiliam moradores de rua e empresas dispostas a contratá-los. Organizações interessadas em divulgar currículos de moradores de rua, ou empresas dispostas a contratá-los podem fazer parte da ação social."