A Casa dos Perfumes

Costumo sempre atribuir às coisas, às situações, aos momentos, às pessoas, aos ambientes, seu cheiro. Tudo e todos exalam um cheiro próprio, naturalmente. Odor esse, correspondente aos sentimentos existentes, que denuncia a áurea que os envolve.

E quantos ambientes maravilhosos de cheiros bons e tantos hostis, entre tantos outros, que percebemos e que encontramos.

Não quero passar uma visão espiritualista das coisas, ao mesmo tempo talvez o faça, porque o que ora abordo não se ver e isto nos leva a recorrer e argumentar também pelo prisma da espiritualidade.

Em verdade, os ambientes e as pessoas quando se juntam interagem com as suas áureas nas situações e nos momentos. Essa interação de ingredientes diferentes nos proporciona uma visão, uma percepção, um sentimento do que se formou com a mistura.

Os ambientes são fixos, imóveis e nós sabemos sempre onde encontrá-los. Se abandonados assumem seu cheiro de tristeza. Fica velho. Deprecia-se. Suas matérias exalam o cheiro da solidão.

Quando visitados, observemos, no abrir da porta com o visitante, invade um vento fresco de boas vindas, que reanima suas matérias, trazendo-lhes mesmo que momentaneamente à vida.

Quando habitados, a vida ali se instala com a fragrância de coisa nova.

As pessoas são móveis, vão e vêm, estão aqui, ali, depois lá. Exalam no seu trajeto sua sabedoria, sua alegria, sua frustração, sua felicidade, seu exemplo, seu sucesso, seu fracasso, sua forma de ver e fazer as coisas, seu posicionamento a respeito de algo, enfim, sua áurea formada por uma série de ingredientes os quais vão interagir por onde passam.

Visitando, na abertura da porta entra sempre o mesmo vento de boas vindas como que apostando nos momentos futuros. Na saída o cheiro que ficou é o exalado por ele. As paredes, os objetos, as pessoas absorvem esses odores.

Habitando, o cheiro do habitante ali se instala interagindo com o espaço e as coisas que o compõem. Formatando sua áurea.

Exemplificando, cito, uma visita de saudade. – O olhar percorre os cantos, pára nas gravuras, num móvel e se perde nas divagações. Relembra situações e momentos outrora vividos. O perfume do reviver nos envolve. Marca a fala. Enquanto que, instintivamente, conferimos cada detalhe do espaço; revivemos o que foi bom o que foi ruim.

Neste ponto, bem neste ponto e que queremos concentrar toda a energia desta abordagem. O que revivemos. O que sentimos, em fim, é a carga dos acontecimentos que ali vivemos. Que eles sirvam, sobretudo, para uma reflexão. E nos prepare para uma nova situação. Porque nosso cheiro, quem o define se é bom não somos nós, será sempre quem com ele interage.

Cabe preparar-nos pacientemente. Desarmando nossos espíritos para que fiquemos receptivos às coisas boas. Que nos envolvamos nas situações. Nossa participação positiva influencia qualquer ambiente propicia e aguça a sensibilidade no sentido da melhoria recíproca de nossos cheiros para que quando interagirmos; colhamos o que há de melhor em nós.

Humilhemo-nos. “Somos todos aprendizes, compartilhar é o grande segredo da sabedoria e da evolução”.

Visitemo-nos vez e quando. Nós somos esta casa. Arrumemos nosso íntimo. Sejamos vigilante nos ingredientes que absorvermos como matéria prima. Quando sairmos de nós carregados de energia limpa; exalemos nosso cheiro na nossa casa, exalemos nosso cheiro no nosso trabalho, nas nossas relações interpessoais, por onde passarmos e onde estivermos, exalemos nosso cheiro, e que ele seja, um verdadeiro espelho, e alguém interagindo diga que ele está refletindo e imbuído na prática do bem.

Já é um bom começo. Inspiremo-nos nas cachoeiras que mesmo com grandes volumes começaram com um único pingo d´água. Somos falhos, é certo. Mas não quer dizer que não amenizemos conflitos, nem indiquemos caminhos que se confraternize, e ações que promovão nossa própria domesticidade.

Fiquemos sem jeito. Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Todos tem seu cheiro natural. O meu, vocês que o digam. Por aí trafegam muitos cheiros raros e os de gambá hostil. Depois falo.

E o cheiro do Leitor. Ah! O querido Leitor. Principalmente o desse artigo. Você tem o cheiro da esperança de um novo dia. Um dia em que os escritos sejam consumidos por necessidade vital e guardados como um bem precioso. E não acabem no sêbo.

É esperança o primeiro pingo, com Deus, será cachoeira!

Manuel Oliveira.

Manuel Oliveira
Enviado por Manuel Oliveira em 19/07/2007
Código do texto: T570651