CALHORDAS E IMBECIS

Calhorda: pessoa sem valor, desprezível, ordinária.

Imbecil: que denota inteligência curta ou possui pouco juízo; idiota, tolo.

Estas, acima, são as definições formais entre um calhorda e um imbecil, mas, na prática, no cotidiano ou nas mais variadas situações com que nos defrontamos em nossa lida habitual, há como saber se estamos diante de um ou de outro? Que importância tem isso?

Partamos do princípio, segundo o qual, neste grande hospício esférico que chamamos de Terra, todos somos doidos. O que varia é o nível de insanidade, pois há os loucóides mais inofensivos e tranquilos, cujas besteiras e esquisitices são de menor calibre e, de tão bobinhas, chegam a ser vistas como divertidas ou patéticas pela maioria ensandecida. Nesse grupo de loucóides, situam-se os carolas, fanáticos “mansos”, intelectóides (que preferem ser chamados intelectuais), chefes (que, costumeiramente, acham que são líderes), ricos, abonados, famosos e assemelhados (que se sentem parte de uma elite) e, de resto, todos os que desfrutam de um momento ou condição incomum, por qualquer motivo que seja, e se valem disso para sentir soprar, no oco do cérebro, um ventinho de superioridade sobre os demais. Tolice comum.

Além desses loucos menores, temos os manés. O mané é um doidivana que, de modo geral, possui algo que acredita fazer diferença frente à maioria. Pode ser um saradão, massudo e encrenqueiro, que chega aos gritos, gosta de fazer arruaça, tenta resolver tudo no braço, faz o possível para exibir corpão e músculos (mas corre de um ambiente acadêmico); talvez um badboy, que tenha carro turbinado, som no porta-malas, moto barulhenta, que adora infernizar a vizinhança, pondo na altura máxima aquela cacofonia que chama de música (e que acredita que todo mundo adora, menos os que ele considera velhos), acelera, derrapa, faz cavalo de pau, corre e freia continuamente (crendo que com isso demonstra ser um ás do volante), fica em praças e ruas, nos costumeiros “bobódromos”, entupindo-se de alcoólicos (pra mostrar que é macho e ganhar coragem), gritando (porque gritar, entre os imbecis, é visto como rebeldia), xingando (xingamento é outra demonstração de força entre calhordas), quebrando, urinando e depredando tudo que encontra pela frente. Destruir é uma característica desse tipo demente.

Um tanto mais complicado é o mau caráter. Ele já tem uma tendência ao mal, embora ainda não seja, de fato, um bandido. Costuma, no dizer popular, jogar merda no ventilador, se tiver condição, aproveitando toda chance que tiver para se dar bem e, de quebra, puxar o tapete de outro, infernizar a vida de alguém ou aprontar pra valer. Nesta categoria temos os que estacionam onde não devem (é só um minutinho), entram na contramão, fumam em local proibido, sujam, queimam, envenenam, jogam lixo no terreno dos outros, praticam pequenos roubos, mentem descaradamente, abusam dos mais fracos e distorcem regras ou leis para se dar bem, incluindo-se aí a maioria massacrante dos políticos de todos os partidos.

Logo após, na sequência maléfica, temos os autoritários. Estes podem estar assentados em alguma posição de autoridade ou não, mas o que os caracteriza mesmo é o autoritarismo. Costumam comandar militares, religiosos, burocratas, políticos, militantes, ter cargo de chefia, diretoria ou ter graduação em diversas vertentes de poder. São os tais “você sabe com quem tá falando?”,que se sentem acima da lei, fazendo e acontecendo, geralmente, o que não devem.

No topo da maldade, temos os bandidos. Estes, como o próprio termo já descreve, são os mais perigosos, que não têm qualquer escrúpulo, dó, piedade, respeito, consideração, e não hesitam em perpetrar os mais terríveis crimes, desde que vejam vantagem no ato. Neste canto se escondem tanto os mais animalescos, que comandam bandos de malfeitores, milícias, exércitos sanguinários e organizações criminosas, como os ladrões de colarinho branco, que não sujam as mãos, não aparecem, mas organizam roubos que tiram milhões de vidas ou de oportunidades para aqueles que dependem da ajuda do poder público para alavancar a vida.

Como dá pra deduzir, dificilmente um imbecil deixa de ser calhorda e vice versa.

Não creio que seja tão importante diferenciar um do outro, pois ambos se completam.

Quanto à importância de saber estar frente a um desses, já considero valiosa, porquanto sempre é seguro conhecer o chão onde pisamos e a pessoa a quem damos a mão (o voto, o crédito, o apoio), principalmente se pertencermos ao grupo de louquinhos mais pacíficos, do início desta crônica. Se você se enquadra nesse patamar, não rasga nota de cem, respeita seu próximo e é bom cidadão, posso dizer, sem errar, que ainda tem salvação. Amém!

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 24/07/2016
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