IMINÊNCIA

Vivemos uma realidade paradoxal.

O mundo está contaminado pela violência, corrupção, desmandos e desfaçatez; ao mesmo tempo em que se fala, continuamente, em respeito ao próximo, justiça social, igualdade de direitos e amparo aos desfavorecidos. Tendências opostas ocupando o mesmo espaço.

Entre os nossos iguais (nem sempre tão iguais assim), temos três tipos distintos:

- bandidos tanto os de arma em punho, quanto os dissimulados, que parecem gente boa.

- largados vivem festando, incomodando os outros e não têm respeito por nada e ninguém.

- cidadãos tentam viver adequadamente, cumprindo as leis e normas de boa conduta.

Infelizmente, os cidadãos existem em menor número, e estão cercados pelos outros dois tipos inconvenientes e agressivos. Por esse motivo, o caos se instala, progressivamente, em vários lugares. Se de um lado temos bandidos armados, de outro temos governantes e justiça sem interesse, sem brio, sem vontade de simplificar a vida dos cidadãos e resolver problemas antigos e recorrentes. Mesmo que, ultimamente, tenhamos visto alguns profissionais dessas áreas agirem positivamente, ainda se faz muito pouco para reverter tanta desgraça.

A única coisa que, efetivamente, interessa aos que detém algum poder, é manipular o povo, para que sempre exista polarização entre situação e oposição. Todos querem sempre estar a favor ou contra algo, alguém, mas isso não tem a menor importância, se verificarmos que tanto uns quanto outros não fazem o que é certo. Não adianta, diante de milhares de erros e problemas, resolver dez ou quinze, gastando o resto do tempo e dinheiro em viagens, festas, comícios, loteamento de cargos, ampliação de poder ou alianças ideológicas.

Quem governa ou exerce algum poder de decisão, em qualquer nível, é serviçal do povo e deve satisfação a todos os cidadãos, principalmente os mais simples e necessitados.

Vejo sempre todos esses engravatados, arrogantes, pedantes, nariz empinado, achando que são especiais. São meros serventes públicos, e deveriam beijar o chão, mostrar respeito ao mais humilde de seus compatriotas, agindo com desapego a mordomias, optando por usar apenas pequena parte do enorme salário que recebem, evitando viagens, comitivas, residir em palácios (coisa inútil), ter inúmeros empregados e outras aberrações. Em seis décadas de vida ainda não conheci alguém a quem possa dizer que respeito, pois todos os que passaram pela vida pública, em todos os níveis, que eu conheça ou lembre, ou agiram muito mal ou aceitaram as benesses estúpidas e indevidas, com sorriso de satisfação na cara dura.

A sociedade é um caos porque o governo é um caos. Este e todos os anteriores.

Os criminosos mais perigosos são os que ocupam altos cargos e atacam com a caneta.

Não vejo como resolver a situação, enquanto os bandidos que ganham fortunas ainda ocuparem o parlamento, o governo, a justiça e todos os níveis de administração pública, até mesmo em repartições e postos de atendimento ao cidadão. Todos os partidos têm bandidos.

Querem ajeitar o país? Retirem todos os privilégios desses sacripantas.

Acabem com a dinheirama que irriga partidos, sindicatos, políticos, associações, fundos, funcionários graduados e todos os demais, que parecem viver numa ilha da fantasia. Eliminem a maior injustiça trabalhista deste país, fazendo com que militares, políticos, servidores públicos, juízes, desembargadores e outros, tenham os mesmos direitos de qualquer servidor comum, qualquer trabalhador, de acordo com a CLT, e nada mais. Acabem com mordomias.

É claro que tenho ciência da improbabilidade de isso acontecer por vias convencionais.

Qual bandido é tolo o suficiente para abrir mão de seus “direitos”?

Acredito que tudo ainda vai piorar e muito, até que os idiotas, que se julgam espertos, tenham feito tanta coisa errada, que a vida se torne insustentável, até para os empresários que sustentam a bandalheira, movidos por seus interesses imediatos. Daí em diante tudo escurece, e a possibilidade de vivermos um tempo tenebroso, como o de décadas atrás, assombra todo o horizonte. Somente a cegueira dos bonecos de paletó pode nos levar a isso.

Os crimes comuns aumentam, o tráfico de drogas aumenta, o desrespeito, a violência, o descaso com doentes, crianças, escolas; mas sempre há uma desculpa na ponta da língua.

A bandidagem armada é perigosa e assusta, mas é apenas consequência. A causa de toda a bagunça está nos gabinetes, nos palácios, no parlamento. É ali que se juntam para fazer grandes obras (inúteis), pegar comissões, fazer alarde em torno de eventos incondizentes com nossa realidade, e sorrir, pedindo votos, para depois pisar na cabeça do eleitor.