PRIMAVERA ENCOLHIDA DE OUTONO

PRIMAVERA ENCOLHIDA DE OUTONO

Aprendi a gostar desta bussola

que me orienta no espaço

este traço concluido que me cuida

esta vocação estranha

p'ro desembaraço

procurando outra saída

quando o dia apela pra escuridão

mesmo com sol desabrochando

minha pele na rua

o suor é frio convencido de tristeza

vens tão belo levando minha aspereza

"areia na retina"

que deixo-a ficar em coma

segura de que volte logo

em seguida

não intente contra minha natureza

pelo menos enquanto tenho

ele ainda como amigo

mesmo sabendo que não consigo

ficar sendo uma mulher

por vezes homem de colo

deitada no afago embebido

de um verso de pêlo de braço

evoluindo quando ensaio me virar

pra o que desabotoado

ovaciona minha alma ofegante

devo gripar a fala sobre a pergunta

estou apenas cansada isso é tudo

convulsões astutas estremecem

a"febre" é malévola comete vacilo

toca ele com aquilo

que tento por sobre tudo esconder

do que sinto

vamos ao bistrô Du Valle

que ladeia contra-urbana

no silêncio da rua de baixo

teremos um dia melhor

escutando outras dores

as emoções do íntimo aberto

de corações distantes

podem mentir junto conosco

nossas igualdades serão primárias

deixam nossos sentidos

enciumados pelas palavras querendo

sair engolidas com menta e cravo

num chá de hibisco...

...intranquila com todo mercado

de ações por perto

apostando quem é aquele

será dela talvez não seja

o crime eu cometi no convite

uma impaciência vestida de ultraje

ele apenas assiste

enquanto me escondo numa imagem

que sonhei que fosse o melhor

cenário p'ra desafiar uma paixão

tão violenta que ausência-me

que mantém-se em segredo

pelo medo contraria-me

esfacelando qualquer mísero contato

quando se aproxima

sou tão avulsa que aceito no ato

sorrindo primaveras colhidas

no outono.

MÚSICA DE LEITURA: Jolie Holland - Old Fashioned Morphine