Há dias

Há dias que parecem um hiato na vida da gente; dias em que a sensação é de ser nada, ninguém, nem uma bolha de sabão em sua curta vida, embora seja revestida do seu encanto, seu brilho. E talvez por isso mesmo; há encanto e brilho nessa brevidade. Dias em que a vida parece forçada a se tornar estanque a qualquer custo. Nada possível de se pensar, ao menos. Muito menos algo possível de se fazer. Haveria sofrimento maior para uma alma ativa? Isso é o inferno na terra. Dias em que, se está viva, parece anestesiada. E, infelizmente, (ou felizmente, quem sabe?) apesar da sensação de uma forçada inércia não perde a consciência do todo nem a noção do quanto a vida urge. E isso é um constante atrito causador de um sofrimento atroz. A vida é um constante frigir. E é como se nem pudesse respirar. Sufocante estado ausência física quando a mente não perde a noção de nada. Amanhã será um outro dia. Que dia será amanhã? Dia de ação? Quem sabe? Apenas sabe-se que inexoravelmente o dia e a noite cumprem a sua função sem que nada, absolutamente nada possa alterar sua rotina.

E que dia será amanhã? Há dias e dias. Dias que a individualidade não contabiliza.