Apenas uvas e nada mais

Uvas. Frutas de um roxo tão bonito. Não é um roxo qualquer, é um roxo que se você olhar bem ele se transforma em um lilás transparente, ou então pode até ser um vermelho puxado para o roxo. Não sei bem ao certo sua cor. Isso que a torna mais especial. Suas formas, tão desiguais, chamam a atenção de todos. Suas curvas que a tornam únicas. Seu doce cheiro meio azedo. São essas características que fazem uma uva ser apenas uma uva. Mas, afinal o que são uvas?

Trouxe lhe um cacho de uvas. Achei que fosse gostar. Lembro-me de quando eu conversava com você e você apenas ficava parado fingindo prestar atenção. Dizia que na verdade estava observando meus olhos, dizia-me que eles pareciam duas uvas. Falava que o brilho que vinha do meu olhar complementava a cor dos meus olhos fazendo com que ele parecesse uma intensa e desigual uva.

Não converso contigo há tanto tempo. Resolvi que hoje eu iria vir me sentar ao seu lado e contemplar esse belo cacho de uva como fazíamos antigamente. Eu escrevia e você pintava. Uma dupla perfeita. Costumavam falar que éramos um casal perfeito. Mas será que éramos mesmo? Com todos aqueles defeitos que tínhamos acho que a única coisa perfeita em nosso relacionamento era esse cacho de uvas.

Pego uma uva. Ela está apodrecendo. Perto da morte. Ela apenas espera o seu sinal para que ela possa ir embora desse imperfeito mundo, ela é como eu. Mas ao seu lado jazia outra uva, que agora já está posta na grama ao seu lado. Ela está morta? Não sei. Afinal quem sou eu para saber sobre vida e morte? Mas de uma coisa eu tenho certeza, essa uva que descansa na grama verde é como você. Não aparenta mais vida, não há mais perfeição ou beleza em sua aparência. Mas pelo menos não há nada que me impeça de conversar com ela ou com você.