Simplicidade Humana

Conheci Zeca Tituba. Dr. Zeca Tituba! Médico psiquiatra, interiorano, roncava e falava grosso. Seus pacientes, ao chegar ao consultório, não falavam (como era de costume psiquiátrico), apenas ouviam. Zeca Tituba era contador de histórias. E dos bons. Suas horas dedicadas à medicina eram turbulentas e exaustivas. Atendia em média 10 pacientes diários, a um preço simbólico de 100 reais a consulta. Os pacientes pagavam para ouvir, e não para falar. E riam. Riam muito do Tituba! Sua gagueira era apenas um detalhe. Um mero detalhe diante as fantásticas histórias narradas por este mentecapto andarilho.

Contou-me que, quando foi aluno de medicina, namorou sete garotas ao mesmo tempo. E foi apaixonado por todas, e todas apaixonadas por ele. Na sua formatura todas tiveram lugar. E no discurso, a todas agradeceu.

Sua opção pela psiquiatria foi devido o não entendimento de sua pessoa, julgava-se louco, e resolveu estudar sua própria doença. Não se conformava com a possibilidade de conversar com ele mesmo. E conversava por horas. Quando se dava conta, resmungava: - Só posso ser louco. Pesquisador, tornou-se o maior e mais renomado psiquiatra de sua região.

Sua gagueira surgiu quando tinha 27 anos, após o trauma decorrente de uma traição de sua namorada. Tituba era ciumento. Não admitia traições. E foi numa dessas que, ao chegar em casa, encontrou sua namorada com outro. Na cama. Nus! E ela sussurrava. Uivava. Gemia. Ele não se conformou, não falou, apenas desmaiou. Acordou horas depois com o amante de sua mulher o abanando com as suas cuecas. Totalmente pelado e, sua namorada envolta por um lençol branco. Ele não suportou. Nunca mais conseguiu pronunciar uma palavra por inteiro. Foi um trauma. Um baque.

Era jogador de futebol, consta-me que foi zagueiro, e dos bravos. Pois todos sabem que zagueiros devem ser bravos. Devem ter cara e jeito de mau. E rosnarem. Tituba era tudo isso. Corre o boato que Tituba acabou com a carreira do maior jogador de futebol que o Brasil já teve, ou teria. Não fossem os dois joelhos quebrados em um carrinho tomado pelo zagueiro. E depois disso, gargalhava. Olhava fixo para o adversário e gargalhava.

Conheci Zeca Tituba assim, contando histórias, numa parada de ônibus, onde na chuva ele dançou, cantou e jogou-se sobre o mar de água que pousava sobre o asfalto.

Zeca Tituba! Um sujeito simples e feliz Um homem honesto e digno de tamanha proeza.