Metrô-Bolha

Vamos começar do começo: Ela odiava o metrô.

Não só porque passava mais de uma hora nele, mas porque era impossível estabelecer qualquer tipo de conexão com as pessoas ali.

Uma vez, fez uma maratona subterrânea com um dos melhores amigos, o problema é que ambos só perceberam que estavam no mesmo vagão quando as portas se abriram e eles desceram, 1h e 45 minutos depois.

No metrô, a garota ouvia histórias de todo tipo: O namorado safado que recebeu uma surra da mulher, o pedinte que aceitava até cinco centavos de esmola, a moça bonita sentada no banco para idosos, todos parecendo encobertos por suas próprias bolhas impenetráveis.

Se houvesse oportunidade de conversar com o rapaz adormecido ao seu lado, que grandes aventuras ele teria pra contar? Não sabia.

E a coisa mais dolorosa sobre o metrô era justamente essa: jamais saberia.

Cada descida, cada parada, cada passageiro que levantava se transformava numa nova incógnita, um novo ponto de interrogação.

E o que falar dos celulares? Se cada pessoa tinha uma espécie de bolha em volta de si, os smartphones e Iphones eram a janela para o mundo exterior. Ali conversavam, interagiam, reinventavam a maneira de ser humano.

Isso não bastava para ela.

Queria perguntar ao garoto de bermuda xadrez aonde tinha conseguido aquela cicatriz no tornozelo, ao rapaz de blusa azul que tipo de música tocava em seus headphones, à moça de cachos perfeitos como conseguia deixá-los tão alinhados... Queria muito, queria tudo, todavia, quando pensou em agir, já era hora de descer.

Ladra de Tinta Seca
Enviado por Ladra de Tinta Seca em 03/08/2016
Código do texto: T5718187
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