A SEPARAÇÃO DAS VIRGULAS

A SEPARAÇÃO DAS VIRGULAS

O que permite o incômodo nunca desaparece

permanece vagando no sonhos

permitindo vê-lo mais de uma vez

não podendo pegar-te de surpresa

nem dizer nada sofrendo de raiva

um desprazer de vingança surda

meus gritos assustam apenas

a vizinhança desconfiada

mas ela não está separada

a vi ainda ontem sozinha

sentada de biquini perto

da piscina de plástico

que ela monta com tanta brevidade

que o calor parece descer

dos céus num resfrio direto

mal sabe-se dos olhos pelos

óculos escuros fechados

a pele tão branca fantasma

querendo assustar alguém

e é ai que ele chega

com uma sacola pequena

movido ao líquido ausente

na garrafa jogada no lixo

veio frequente desejando novamente

olhando ela muda diante

da cerca de pouca altura

e o portão trancado num cadeado

que de longe pode se ver

sem problemas o brilho avisando

não estou em casa

o novo inquilino sendo alisado

com nenhum interesse

no que está do lado de fora

parece querer talvez pular

pr'o lado de dentro

como antes era tudo festa

e o aroma convida a sonhar

desta forma

ela pouco se importa

dá um sorriso breve

num leve levantar do copo

brinda sua chegada

e eis que derrepente

ele assume o personagem antigo

o homem-aranha teve tanta

precisão no salto

esquecendo-se que sua teia

não existe mais ali

e nem seu cheiro desperta

o interesse de quem os dentes

amostra tem um pêlo arrepiado

pronto ao abate

que aos gritos deixa uma parte

pendurada na cerca

e vai desta vez de uma vez

querendo por todas

embora...

MÚSICA DE LEITURA:

BIG MAMA THORTON - Born Under a sign